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Jogos de RPG e criação de personagens – II

Horse Lady

Horse Lady por Damian Cugley. Creative Commons – https://www.flickr.com/photos/pdc/

A criação de personagens nos jogos de RPG é uma parte divertida do jogo em si. Muitas vezes, quando um grupo de pessoas se reúne para um jogo, pode passar uma tarde, ou noite, dedicando-se apenas a criar seus personagens. Acabam apenas jogando num segundo encontro, depois que os personagens já foram criados.

O processo de criação de personagens é um pouco diferente, dependendo do sistema de regras que estão usando. Muitos sistemas são bem diferentes, mas a maioria deles possuem vários pontos em comum. Ter uma ficha de personagem é um deles. O segundo pontos sãos os atributos gerais do personagem, isto é, uma tradução quantitativa de características gerais como força, inteligência, destreza, carisma, vitalidade, aparência física, percepção, etc. Ao quantificar atributos, temos uma ideia do que são capazes de fazer. Por exemplo, alguém pode ter força 10 (normal), ou 18 (excepcional, de halterofilista). Ou destreza 8 (pessoa desastrada) ou 12 (atleta de final de semana).

Somado aos atributos, virão habilidades, conhecimentos, poderes, vantagens e desvantagens possuídas pelos personagens, tais como saber nadar, lutar, fazer magia, usar tecnologia, se tem algum sentido apurado, alguma limitação física, nível social e de riqueza, etc.

Eu tenho uma preferência por sistemas em que o jogador recebe pontos para gastar. Assim,  personagens diferentes tenderão a ser balanceados. Pessoas cujas fraquezas e virtudes de algum modo se contrabalanceiam. Isso é muito válido para a criação de personagens literários. Muitas vezes um personagem é raso ou caricato, justamente por ser perfeito demais, bom em tudo. Os jogos que forçam o jogador a escolher defeitos para o personagem, tendem a criar personagens mais interessantes.

Neste capítulo, vou falar um pouco de atributos e como são descritos em alguns sistemas de jogos diferentes. Tais descrições podem dar ideias ao escritor, sobre como pensar em seus personagens. Um sistema que acho interessante, divide os atributos entre físicos, mentais e sociais.

Destreza – tem a ver com agilidade, coordenação motora, velocidade de reação, etc.

Força – capacidade de carregar, levantar, arremessar objetos, causar dano físico, intimidar, etc.

Vitalidade ou Constituição física – mede a saúde geral, vigor, resistência a dor, fôlego, capacidade de resistir a ferimentos, doenças, venenos, etc.

Inteligência – capacidade intelectual, memória, raciocínio, capacidade de aprendizado, etc.

Percepção – em alguns sistemas é tratado à parte da inteligência, é a capacidade de perceber o ambiente ao seu redor, mesclando-se um pouco com intuição.

Força de vontade – resistência ao estresse psicológico, capacidade de lidar com o medo, interrogatórios, sedução, tortura, auto-confiança, etc.

Carisma / Aparência Física – Capacidade de fascinar os outros, de atrair simpatia, ganhar a confiança de alguém, influenciar os outros, etc.

Empatia – Capacidade de se colocar no lugar dos outros, ganhar sua compreensão e confiança.

Quanto a atributos e sua quantificação, acho que melhor do que utilizar números é entender isso como níveis ou faixas de capacidade. O sistema Storyteller, por exemplo, dos jogos Vamipiro a Máscara, Mago, Lobisomem, etc, usa cinco níveis: Pobre, Médio, Bom, Excepcional e Incrível. Veja um exemplo:

Destreza

Pobre: Você tem mãos de manteiga então não vá usar uma serra elétrica.

Médio: Você pode mastigar um chiclete e andar ao mesmo tempo.

Bom: Possui um bom potencial atlético, em geral.

Excepcional: Você pode fazer malabarismo com cinco facas.

Incrível: Você pode fazer malabarismo com cinco facas e de olhos vendados.

É claro que aqui, meu objetivo não é sair transcrevendo detalhes de todos os manuais de RPG que há por aí, mas sim, dar uma ideia ao escritor de como funcionam essas formas fazer um “raio-x” de personagens de forma a escrevê-los em fichas de personagens. Havendo interesse de conhecer o assunto em maior detalhe, há muitos RPGs no mercado, e muitos deles possuem versões PDF gratuitas. Uma rápida busca na internet por “sistemas de RPG gratuitos” vai dar ao interessado ao menos uma dúzia de opções.

O importante é que todos os sistemas de RPG fornecem ao jogador uma maneira guiada de fazer o raciocínio para criar seus personagens.

Nas próximas partes, vamos ver outros aspectos tais como vantagens e desvantagens, perfis de profissões, raças, poderes, fraquezas, arquétipos de personalidade, objetivos para os personagens, etc.

Para facilitar sua vida, vai aqui uma lista com alguns RPGs gratuitos:

Veja ainda

Criação de personagens – parte 5

People with speech bubbles - freepik.com

People with speech bubbles – freepik.com

Os diálogos são cruciais para dar vida a personagens. Bem, muitos buscam criar diálogos realistas, mas criam personagens que falam da mesma forma que nós falamos. “Olá”, “bom dia, bom dia”, “como vai você?”, “Tô bem, obrigado”, um diálogo de preenchimento que não leva à nada.

Entretanto para criar algo realista é preciso refinar o que esse personagem diz. Tornar as falas específicas para  a voz desse personagem.

Evite infodumps, especialmente em diálogos

Fuja do diálogo vomitado com infodumps, ou seja, um despejo de informações sobre o leitor, coisas que não seriam naturais de uma pessoa dizer. Algo assim (falando com a mãe):  ‘você lembra quando você e o papai e eu estávamos passeando na praia de Ipanema e estava muito ensolarado, um céu lindo e o papai estacionou o fusquinha 1968 e comemos sanduíches de atum lá dentro? Como ele gostava daquele fusquinha. Ele usava um bigode que cobria a boca e uma camisa xadrez de golas altas’. Neste diálogo, o autor tenta passar ao leitor informações que poderiam ser dadas de outra forma.

Funções do diálogo

É preciso ter certeza de que cada linha do diálogo em cada página alcance os seguintes três pontos:

1) Destacar a essência do personagem, para que não pudesse ser mais ninguém falando aquilo. Isso ajuda o leitor a construir o personagem em sua mente.

2) Evocar algum tipo de confronto, conflito, divergência de ideias. Ou então apresentar fatos relevantes para fazer avançar a trama.

3) Procurar pela essência do que queremos passar de modo que soe natural, usando o mínimo de palavras possível.

O jeito individual de falar

Reforçando, evite que todos seus personagens soem da mesma maneira. Todas as pessoas tem seus modos particulares de falar.

Para cada personagem é bom pensar em frases habituais que usam (sem exagerar no uso).  Palavras que eles não usam, por exemplo, nunca falar palavrões, ou evitar uso de palavras complicadas. Se o personagem é eloquente, ou não. Consegue falar “bonito” ou não? Quão educado ele é? Ou é mal educado? Isso tudo deve refletir no diálogo de modo a construir a voz única do personagem. Uma boa ideia é fazer uma lista de adjetivos que cada personagem costuma usar. Tente fazer com que eles sejam de uso exclusivo de cada um deles.

Criação de personagens – parte 3

Formas de expressão do personagem e seu mundo interno

Benjamin’s Portrait
Lady Orlando – https://www.flickr.com/photos/ladyorlando/

Continuando a falar sobre a criação de personagens, vamos focalizar agora nas formas de expressão de seu personagem e seu mundo interno.

O leitor irá se interessar por um personagem que pareça real. Para isso é necessário dedicar tempo refletindo sobre quem ele é. Aqui vão mais algumas dicas que vão ajudar nisso.

Faça os seguintes questionamentos para ajudar na construção do personagem:

Que tal começar pensando nas peculiaridades, tiques ou maus hábitos de seu personagem?

Essas coisas são o que os outros observam nele. Seu mundo exterior. Agora, entrando na mente de seu personagem… Será mais fácil escolher tais atributos depois de investigar, mais a fundo, seus pensamentos.

Quais são as as preocupações dele?
As pessoas pensam o tempo todo, é muito difícil parar de pensar. O que seu personagem geralmente tem em mente? O que ele valoriza? O que odeia? Quais são seus sonhos e esperanças? Quais são seus medos?

Desejos

O que um personagem deseja, em especial, é algo muito importante na sua criação. Isso poderá ajudar a constituir o motor de sua história, o combustível para a trama. O que seu personagem quer?

O mundo interno de seu personagem molda a forma que ele cuida de sua aparência. Que tipo de roupas gosta de vestir? Usa maquiagem? Tem o hábito de se olhar no espelho?

Como ele se comporta quando está alegre, ou nervoso? Aparece algum tipo de tique ou mania? Passa as mãos no cabelo? Gesticula enquanto discute? Balança o pé quando está sentado? Fecha os olhos quando dá gargalhadas? Coloca um cigarro na orelha?

Pense nessas particularidades, mas não use demais. Uma pitada aqui, outra ali, para não ficar cansativo. Escolher e usar muitas peculiaridades podem até deixá-lo artificial ou ridículo.

Faça o mesmo exercício para os personagens secundários. 

O que irrita seu personagem? Tem alguma comida ou bebida que não conseguem resistir? Um vício ou obsessão? Ele ama acarajé, ou milk shake?

Há algo de sua infância que permaneceu para a vida adulta? Algum hobby? O que ele guarda na geladeira, ou numa despensa e que não pode faltar? Cerveja? Chocolate? Pimenta?

Onde ele dorme? Numa cama? Rede? Onde der? O que guarda debaixo da cama? Ou no seu criado mudo? Gosta de ler? Tem algum livro, ou autor favorito?

Imagine coisas sobre seu personagem dia e noite. (mas descanse)

Qual sua piada favorita? Ou história favorita? Possui algum animal? Qual sua relação com este?

Qual foi a pior coisa que seu personagem já fez? Ele sente remorso?

Tem alguma mania ao falar? Alguma frase que costuma repetir, ou expressão? Todos tem, observe e verá.

Qual sua peça de roupa favorita? Um boné? Um determinado par de meias? Luvas? Uma gravata? Uma camiseta estampada? Qual é a estampa?

Qual foi o último filme ou livro que leu? Alguma história que adorou? Alguma que odiou? Ou ele não gosta de ler? Gosta de fazer o que para passar o tempo?

Invista no seu personagem

Quanto mais você se conectar a todos detalhes que puder imaginar de seu personagem, mais perto estará de criar um personagem que os leitores tenham chance de gostar. Essas informações vão ajudá-lo a tomar decisões a respeito de seu personagem e refinar sua criação ainda mais.

Cada pedacinho que criar e que estiver em suas anotações a respeito do personagem ajudará a construir um ser humano. Essa é a sua meta. Não listar ideias sobre pessoas, mas trazer uma pessoa de verdade à vida no papel.

P.S.: Que tal encontrar dicas dos mestres? Veja abaixo alguns de meus livros favoritos de escrita criativa:

 

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Criação de Personagens – parte 1

Como criar personagens bons e memoráveis?

Se a trama é o esqueleto de uma história, os personagens são seu coração. Na ficção os personagens são o elemento central, a base de tudo.

Mas por onde começar?

Criar personagens é um exercício mental. Talvez, o melhor lugar para começar seja procurar visualizar suas características físicas. Bem, aqui não estamos falando apenas de ver sua aparência física, altura, constituição corporal, cor dos olhos e cabelos, mas também, um exercício de todos os sentidos. Que ruídos eles fazem, qual o som de sua voz, de que jeito falam, com qual sotaque, que cheiro costumam ter, etc?

Por que você quer esse personagem no centro de sua história? O que há de interessante e particular nele que vale a pena mostrar para os leitores? Sua história é sobre quem? Um solteirão incorrigível? Uma engenheira que sobreviveu a um desastre? Uma feiticeira poderosa? Um príncipe proscrito?

Um personagem crível e interessante tem boas chances de surgir se você buscar inspiração em pessoas que você conhece. Não estou dizendo para transformar sua mãe ou irmãos em personagens, mas talvez, alguns aspectos dessas pessoas mais próximas, e que você conhece como ninguém, poderão inspirar a concepção de sua personagem.

Antes disso, temos como referências, nós mesmos. O que é profundo em você mesmo e que poderia vir à tona como característica de um personagem? Siga nesta ordem, para buscar inspiração:

  1. De você mesmo;
  2. Sua família;
  3. Seus amigos próximos;
  4. Seu círculo/grupo social;
  5. Sua cultura.

O coração de um personagem interessante não é uma série de qualidades. Seu coração é  alguém que você desenvolve na sua imaginação, e depois, coloca no papel.

Exercite a visualização do personagem. Pense nos seguintes atributos físicos:

  • Altura
  • Cor da pele, dos cabelos
  • Formato do rosto

O que há de peculiar nele?

Se aprofunde mais

Agora que consegue vê-lo fisicamente, é preciso ouví-lo, cheirá-lo. Use todos os sentidos ao imaginar um personagem. Tem cheiro de sua comida favorita? Comida chinesa? Alho porque estava cozinhando? Usa algum perfume?

Ouça sua voz. Fala rápido ou devagar? Possui algum sotaque? De que cidade? É do interior? De que parte do país? Alguém de São Paulo vai soar diferente de alguém de Belo Horizonte, Salvador ou de Florianópolis. Então, você pode pensar em como ele soa e tentar escutar sua voz dentro de sua cabeça. Como se expressam? São expansivos e usam muito a linguagem corporal? São tímidos, comedidos?

A tarefa do escritor é dar vida aos personagens, para tal, é preciso meditar e fazer exercícios de visualização. Exercícios de escuta. Vale muito investir nisso. A imaginação é sua principal ferramenta. Use-a. Invista tempo em imaginar seus personagens. Tome notas. Imagine de novo. Faça isso até sentir que conhece essa pessoa muito bem.

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