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Germes Mortais – Gerson Lodi-Ribeiro

Recentemente vimos aqui a coletânea “Imortais Efêmeros” e a novela “Quando os Humanos Foram Embora” de Gerson Lodi-Ribeiro. Reconhecido por sua habilidade em criar universos ficcionais envolventes e narrativas cativantes, Lodi-Ribeiro nos apresenta agora “Germes Mortais”.

Já aviso que é um pouco difícil falar desta obra sem dar uma pequena dose de spoilers. Nada que de algum modo já não esteja na sinopse da obra. Então, vamos lá…

Germes Mortais é ambientado no universo ficcional AETERNUM SIDUS BELLUM. A ação se desenrola num futuro remoto, uma época em que quase todos os nossos descendentes já transcenderam (ou sucumbiram) ante as sucessões de processos de singularidade tecnológica. Neste cenário extraordinário, a humanidade emerge como uma das espécies mais poderosas da galáxia.

É uma aventura infantojuvenil de ficção científica que começa de modo intrigante. Um grupo de alienígenas de várias partes do multiverso é convocado para uma missão de proporções cósmicas por uma civilização hiper avançada. Uma delas é a humana Terra, portadora de um biotrage contendo uma inteligência artificial e que também possui um incrível poder psíquico.

Usando o linguajar técnico usual de algumas de suas obras de ficção científica hard, Gerson nos conduz por uma jornada que se assemelha, em muitos aspectos, às histórias de super-heróis, como os X-men, Quarteto Fantástico ou a Liga da Justiça. O autor até brinca com isso intitulando um dos capítulos de “Quinteto Fantástico”. Não é pra menos, afinal, cada membro do time foi criteriosamente selecionado por uma civilização hiper avançada, capaz de viajar entre galáxias e até diferentes dimensões do multiverso. Sua missão é tentar eliminar Oon, uma ameaça crescente capaz de eliminar a vida em todos os universos.

A primeira parte da história é marcada pela introdução de cada membro do grupo, destacando suas origens e peculiaridades. Este prólogo prepara o terreno para o confronto iminente contra Oon, que ameaça a existência de todos os universos conhecidos.

Conhecemos brevemente cada um dos membros do time e seus contextos de origem. Apenas dois são humanoides, Terra e o paleo-humano Jug’harr, um ciborgue belicoso avançadíssimo, que vive na mesma galáxia que Terra. Yeneg é um filósofo invertebrado de outra galáxia, cuja espécie desenvolveu habilidades psíquicas de pré-cognição. Xarilo é uma exploradora de espécie que a grosso modo lembraria um lagarto bípede e possui incríveis poderes psicocinéticos. Djo é um alienígena de forma cilíndrica que vive em ambiente de altíssimas temperaturas, capaz de emitir raios laser e cuja espécie desconhece a existência de outras espécies, estrelas e planetas.

Depois de reunidos, eles recebem um briefing da missão para entender um pouco da natureza do inimigo que irão enfrentar. Essa parte achei muito bem bolada. Logo descobrem que precisam invadir um “planeta vivo” e eliminar a inteligência central, daí a ideia de serem como germes que se infiltram nessa biosfera a fim de eliminar esse imenso e poderoso inimigo.

À medida que a narrativa avança, somos levados a confrontos espetaculares e desafios progressivos que testam as habilidades e a coesão do grupo. Embora a intensidade dos confrontos possa ser extensa em certos momentos, o desfecho satisfatório abre espaço para futuras aventuras deste supergrupo.

A obra poderá agradar os fãs de ficção científica dispostos a embarcar numa aventura cheia de confrontos espetaculares com suaves contornos da ficção científica hard que Gerson trabalha em outras obras.

Imortais Efêmeros – Gerson Lodi-Ribeiro

Essa coletânea reúne 4 contos que expandem o universo ficcional criado na novela Quando os Humanos Foram Embora. Neste longínquo futuro, os seres humanos superaram dificuldades morais da nossa época e se tornaram Imortais.

Em Animais de Estimação temos a narração do encontro de uma humana, Laila, e um alienígena da espécie gandolphiana, Arguto. A relação entre as espécies é respeitosa, mas não totalmente amigável. Os gandolphianos pedem auxílio aos humanos para uma questão, mas por trás das relações práticas há um desejo dos alienígenas de obter compreensão mais profunda de tecnologias dominadas pela humanidade e também da psicologia de nossa espécie.

Muito ligados a seus animais de estimação, os gandolphianos finalmente obtém um terrível entendimento sobre uma das características da humanidade quando investigam o passado remoto da espécie humana e sua relação com animais de estimação.

Em Caminhos sem Volta, vemos exploradas duas questões afins desse universo ficcional. Uma delas é a forma que a humanidade lida com crimes, punições e recondicionado de infratores e sua reintegração na sociedade. 

A outra, é a como a imortalidade pode afetar a exploração de ambientes potencialmente hostis. Este conto explora uma perigosa missão recebida por um ex-criminoso. Ele deve desvendar o motivo que levou dois exploradores a terem sido dados como mortos.

Em Amor Esquecido, vemos o que acontece quando um casal se separa de forma trágica. A companheira, morta num acidente, retorna à vida, porém, descuidada de seu “backup de memórias”, ela perde mais de cinquenta anos de sua vida pregressa. Será possível que ele casal consiga reconstruir sua relação após tais eventos?

E por último, Lokii em Ragnarok, temos um cientista civil, sendo o primeiro convidado para avaliar uma rara condição de quarentena imposta a um sistema estelar após a humanidade descobrir ali uma nova e peculiar espécie alienígena que foi chama de Lokii. 

Este é o maior conto da coletânea e também o que mais desperta a curiosidade do leitor. Afinal, por que foi necessário estabelecer a quarentena? É possível superar o dilema ético que levou os cientistas a tomar esta decisão?

Essa é uma coletânea com ótimos contos de ficção científica que estimulam a imaginação e curiosidade do leitor. Uma ótima adição ao universo ficcional dos Imortais Efêmeros.

Quando os humanos foram embora – Gerson Lodi-Ribeiro

Essa história de ficção científica hard faz parte do universo ficcional Imortais Efêmeros, que explora um futuro distante em que a humanidade se tornou imortal e se desloca pela Via Láctea usando portais de teletransporte. Penso ser um pouco difícil falar em detalhes sobre a história e ao mesmo tempo, evitar spoilers. Então optei por fazer alguns comentários de natureza geral.

A imortalidade dos humanos deriva da tecnologia de teletransporte e essa ocupa uma condição mais evoluída também no campo moral, já tendo superado há tempos disputas mesquinhas e guerras.

A história narra o primeiro contato dos humanos como os Ilianos, uma espécie alienígena bastante peculiar que se desenvolveu numa lua, em ambiente aquático sob uma imensa crosta de gelo global. A primeira boa surpresa vem no primeiro capítulo, no qual o ponto de vista selecionado pelo autor é bem interessante, trazendo uma perspectiva única ao primeiro contato entre as espécies. Deste primeiro contato, nasce uma interessante relação entre humanos e Ilianos.

São exploradas questões de natureza individual e civilizatórias. É um pequeno épico que narra uma relação que se desenvolve ao longo de vários séculos.

A obra faz o leitor imaginar, em detalhes, um pouco dessa civilização humana do futuro, mas o mais notável é a rica concepção da espécie alienígena que escapa de muitos clichês que vemos em obras de ficção científica.

Você consegue imaginar uma espécie sem sentido de visão, tendo se devolvido sob a escuridão e em meio líquido, mas que conseguiu evoluir para se tornar uma civilização tecnologicamente avançada?

Essa é uma das questões intrigantes que a leitura pode trazer ao leitor.

Outra é: como salvar mundos inteiros da destruição a ser causada por uma anomalia solar?

Além dos temas e situações interessantes, contamos com a habilidade do autor para nos fazer imergir numa narrativa que imagina questões complexas e tão distantes da nossa realidade. Certamente uma das melhores obras já escritas da ficção científica brasileira.

Leia seguindo o link.

A Filha do Predador – Gerson Lodi-Ribeiro

Gerson Lodi-Ribeiro, um veterano da ficção científica brasileira, nos presenteia com mais uma obra intrigante. Tendo subtítulo: um conto na tramas de Ahapooka, o e-book tem 60 páginas e me deu a sensação de ter o tamanho de uma noveleta.

A história é narrada por Clara, uma adolescente que vive num planeta bastante peculiar. Uma espécie de planeta zoológico. Nos termos colocados pelo autor, ela vive em: “uma cidade poliespecífica da Grande Planície Vermelha de Ahapooka, um planeta habitado por milhares de espécies alienígenas e centenas de culturas humanas, numa época futura tão remota que a humanidade já esqueceu sua origem e se questiona sobre o mito da existência de um mundo original chamado Terra”.

O pai da Clara é um predador. Uma espécie de mercenário-sucateiro especializado em recuperar equipamentos de naves que são atraídas e caem no estranho planeta.

Clara tem que deixar sua vida escolar (e o bullying dos colegas) para trás e partir em sua primeira (perigosa) jornada acompanhando a profissão do pai. Fora das muralhas e da proteção de sua cidade, ela e o pai encontram batalhas contra concorrentes e também precisam lidar com espécies de centauróides bárbaros e belicosos.

Mesmo em suas poucas páginas, a história mostra uma ambientação muito interessante na qual são abordadas diversas espécies alienígenas, várias culturas, idiomas, o próprio mistério por trás da existência daquele estranho mundo, etc.

É uma história que traz uma sensação de estranhamento constante, bastante imaginativa, bem escrita e de rápida leitura. Deixa o leitor querendo saber mais sobre a personagem e este universo. Ainda não li, mas descobri que Clara é a protagonista do Romance “A Guardiã da Memória”.

No geral, a obra de Lodi-Ribeiro oferece uma experiência literária que transcende os limites do comum, acenando para uma jornadas profundas e empolgantes. Do mesmo autor, veja também a resenha de Pecados Terrestres.

Pecados Terrestres – Gerson Lodi-Ribeiro

Pecados Terrestres é um livro de ficção científica que faz parte da coleção Dragão Mecânico da Editora Draco. É ambientado num futuro em que a civilização humana está prestes a entrar em colapso. Mas diferente de muitas outras histórias de “fim do mundo”, é narrada do ponto de vista de um garoto, o Ricky “Cabeção”.

A história se passa cerca cinquenta anos no futuro a partir de 2021. A geografia e geopolítica do mundo estão profundamente alteradas. Por um lado, as regiões baixas de várias cidades, como o Rio de Janeiro, foram inundadas pelo aumento do nível do mar. De outro, uma guerra de entre blocos políticos ocorreu na Amazônia, devastando o que restou da floresta em poucos anos e agravando a crise climática.

O negaciosismo da ciência faz com que a elite intelectual do planeta migre progressivamente para habitats nas órbitas baixas da terra e cidades na Lua. A civilização dos espaciais evolui tecnologicamente num ritmo veloz, se colocando à parte da humanidade terrestre, ainda superpopulosa e envolta em constantes conflitos.

Ricky é um privilegiado, filho de empresários riquíssimos, vive numa mansão fortificada nas proximidades da Floresta da Tijuca. Seus pais, fazem parte de uma geração otimista que ainda aposta na recuperação da ecologia do planeta. Ele e seus irmãos, foram submetidos a um tratamento, quando ainda bebês, que estimula o desenvolvimento intelectual, e nesse sentido, são muito inteligentes.

A vida de Ricky e seus amigos começa a mudar quando a escola em que estudam fecha e em substituição, passam a ter aulas com Artemisia, uma consciência artificial criada pela civilização lunar. Na medida em que ele e seus amigos vão se adaptando à nova realidade, um novo surto de uma supergripe causada por uma variante de coronavírus começa a se espalhar pelo mundo.

No início, da história, vamos sendo apresentados a elementos desse futuro, como, por exemplo, a tecnologia holográfica e de simulação de ambientes virtuais já bem difundida (como o holodeck de Jornadas nas Estrelas) e a presença constante de agentes virtuais na vida das pessoas. De início, o andamento da história e apresentação dos personagens e ambientação é um pouco lenta, mas logo, conforme a crise se agrava, vai tomando um ritmo que faz o leitor não querer mais parar de ler.

A atmosfera da crise planetária e como isso se desenrola é bastante sombria, porém, fica mais leve vista pelo olhar das crianças e adolescentes que compõem o núcleo narrativo.

O final guarda lá suas surpresas e traz algum elemento otimista para essa humanidade do futuro. Apesar de ser um livro bem curto, Gerson Lodi-Ribeiro, sendo um autor muito experiente, encontra espaço para desenvolver diversos temas, tais como: negacionismo da ciência, crise climática, desigualdade social, transhumanismo, direitos dos robôs/inteligências artificiais, entre outros.

Fica aqui a dica dessa excelente ficção científica, com um toque de aventura adolescente, que serve de alerta para nós no sentido do que estamos fazendo com nosso planeta.

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