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Categoria: Resenhas Page 1 of 36

Germes Mortais – Gerson Lodi-Ribeiro

Recentemente vimos aqui a coletânea “Imortais Efêmeros” e a novela “Quando os Humanos Foram Embora” de Gerson Lodi-Ribeiro. Reconhecido por sua habilidade em criar universos ficcionais envolventes e narrativas cativantes, Lodi-Ribeiro nos apresenta agora “Germes Mortais”.

Já aviso que é um pouco difícil falar desta obra sem dar uma pequena dose de spoilers. Nada que de algum modo já não esteja na sinopse da obra. Então, vamos lá…

Germes Mortais é ambientado no universo ficcional AETERNUM SIDUS BELLUM. A ação se desenrola num futuro remoto, uma época em que quase todos os nossos descendentes já transcenderam (ou sucumbiram) ante as sucessões de processos de singularidade tecnológica. Neste cenário extraordinário, a humanidade emerge como uma das espécies mais poderosas da galáxia.

É uma aventura infantojuvenil de ficção científica que começa de modo intrigante. Um grupo de alienígenas de várias partes do multiverso é convocado para uma missão de proporções cósmicas por uma civilização hiper avançada. Uma delas é a humana Terra, portadora de um biotrage contendo uma inteligência artificial e que também possui um incrível poder psíquico.

Usando o linguajar técnico usual de algumas de suas obras de ficção científica hard, Gerson nos conduz por uma jornada que se assemelha, em muitos aspectos, às histórias de super-heróis, como os X-men, Quarteto Fantástico ou a Liga da Justiça. O autor até brinca com isso intitulando um dos capítulos de “Quinteto Fantástico”. Não é pra menos, afinal, cada membro do time foi criteriosamente selecionado por uma civilização hiper avançada, capaz de viajar entre galáxias e até diferentes dimensões do multiverso. Sua missão é tentar eliminar Oon, uma ameaça crescente capaz de eliminar a vida em todos os universos.

A primeira parte da história é marcada pela introdução de cada membro do grupo, destacando suas origens e peculiaridades. Este prólogo prepara o terreno para o confronto iminente contra Oon, que ameaça a existência de todos os universos conhecidos.

Conhecemos brevemente cada um dos membros do time e seus contextos de origem. Apenas dois são humanoides, Terra e o paleo-humano Jug’harr, um ciborgue belicoso avançadíssimo, que vive na mesma galáxia que Terra. Yeneg é um filósofo invertebrado de outra galáxia, cuja espécie desenvolveu habilidades psíquicas de pré-cognição. Xarilo é uma exploradora de espécie que a grosso modo lembraria um lagarto bípede e possui incríveis poderes psicocinéticos. Djo é um alienígena de forma cilíndrica que vive em ambiente de altíssimas temperaturas, capaz de emitir raios laser e cuja espécie desconhece a existência de outras espécies, estrelas e planetas.

Depois de reunidos, eles recebem um briefing da missão para entender um pouco da natureza do inimigo que irão enfrentar. Essa parte achei muito bem bolada. Logo descobrem que precisam invadir um “planeta vivo” e eliminar a inteligência central, daí a ideia de serem como germes que se infiltram nessa biosfera a fim de eliminar esse imenso e poderoso inimigo.

À medida que a narrativa avança, somos levados a confrontos espetaculares e desafios progressivos que testam as habilidades e a coesão do grupo. Embora a intensidade dos confrontos possa ser extensa em certos momentos, o desfecho satisfatório abre espaço para futuras aventuras deste supergrupo.

A obra poderá agradar os fãs de ficção científica dispostos a embarcar numa aventura cheia de confrontos espetaculares com suaves contornos da ficção científica hard que Gerson trabalha em outras obras.

We are legion (we are Bob) – Dennis E. Taylor.

Este livro de ficção científica me surpreendeu bastante pela inventividade do autor combinada com sua “nerdice”. Baixei uma cópia pelo serviço Kindle Unlimited apenas para ler um capítulo ou dois, sem muita fé que se tornaria uma leitura completa, mas fui fisgado quase imediatamente. Optei por fazer uma resenha que contém o minino de spoilers, mas devido ao próprio conteúdo da história ser de algum modo imprevisível, me parece difícil falar do livro sem contar um pouco sobre o enredo.

We are Legion conta a história de Bob Johansson, um empresário do ramo de TI que contrata os serviços de uma empresa de preservação por criogenia. A técnica consiste em congelar uma pessoa morta para que possa, talvez, ser revivida no futuro, se o avanço tecnológico permitir.

É claro que ele morre e volta, mais de um século no futuro, para descobrir que sua mente foi revivida num sistema computacional, que não possuiu um corpo e nem os direitos de uma pessoa. Nem seu país existe mais como ele conheceu, o mundo mudou muito durante seu sono criogênico, e onde ficavam os EUA existe um novo estado teocrático chamado FAITH. Bob agora precisa lidar com o fato de ser uma propriedade do Estado e obedecer suas ordens, mas isso não é nem 10% da história.

Bob se torna um replicante cuja missão é ser o controlador de uma sonda de Von Neumann, cujo objetivo é viajar para diferentes sistemas estelares em busca de mundos aptos para colonização humana.

O leitor, especialmente se já for fã de obras de ficção científica, irá se deparar um uma FC hard que irá envolver extrapolções da tecnologia computacional, física e astronomia, numa história que é basicamente uma aventura de exploração espacial.

O livro tem muitas dimensões e vai ramificando a narrativa em caminhos inesperados, na medida em que a exploração espacial vai crescendo de modo curioso e ao longo de décadas. Um aspecto especialmente estranho pra mim foi ver os brasileiros retratados como “vilões”. Entre as superpotências do futuro, o Império Brasileiro é uma das mais fortes e com inclinações belicosas. Devo dizer que o autor canadense possivelmente fez uma pesquisa razoável de nomes e termos, mas ainda ficou aquela sensação de que brasileiros e demais sulamericanos são farinha do mesmo saco.

Outro bom recurso utilizado pelo autor (com boa dosse de humor) é o fato do protagonista ser da nossa época, então nós vamos descobrindo esse futuro estranho sob a ótica contemporânea e também carregada de referências à cultura popular como Star Wars, Star Trek, Os Simpsons, entre outros.

Como resumo, é um livro surpreendente, inventivo, bem humorado, com boas chances de agradar leitores de ficção científica. É o primeiro livro da trilogia “Bobiverse” e seu final deixa isso claro, com muitos problemas em aberto a serem explorados nos livros seguintes. Então, se for embarcar nessa leitura se prepare para ler três livros.

Baixe ou compre seguindo o link.

Imortais Efêmeros – Gerson Lodi-Ribeiro

Essa coletânea reúne 4 contos que expandem o universo ficcional criado na novela Quando os Humanos Foram Embora. Neste longínquo futuro, os seres humanos superaram dificuldades morais da nossa época e se tornaram Imortais.

Em Animais de Estimação temos a narração do encontro de uma humana, Laila, e um alienígena da espécie gandolphiana, Arguto. A relação entre as espécies é respeitosa, mas não totalmente amigável. Os gandolphianos pedem auxílio aos humanos para uma questão, mas por trás das relações práticas há um desejo dos alienígenas de obter compreensão mais profunda de tecnologias dominadas pela humanidade e também da psicologia de nossa espécie.

Muito ligados a seus animais de estimação, os gandolphianos finalmente obtém um terrível entendimento sobre uma das características da humanidade quando investigam o passado remoto da espécie humana e sua relação com animais de estimação.

Em Caminhos sem Volta, vemos exploradas duas questões afins desse universo ficcional. Uma delas é a forma que a humanidade lida com crimes, punições e recondicionado de infratores e sua reintegração na sociedade. 

A outra, é a como a imortalidade pode afetar a exploração de ambientes potencialmente hostis. Este conto explora uma perigosa missão recebida por um ex-criminoso. Ele deve desvendar o motivo que levou dois exploradores a terem sido dados como mortos.

Em Amor Esquecido, vemos o que acontece quando um casal se separa de forma trágica. A companheira, morta num acidente, retorna à vida, porém, descuidada de seu “backup de memórias”, ela perde mais de cinquenta anos de sua vida pregressa. Será possível que ele casal consiga reconstruir sua relação após tais eventos?

E por último, Lokii em Ragnarok, temos um cientista civil, sendo o primeiro convidado para avaliar uma rara condição de quarentena imposta a um sistema estelar após a humanidade descobrir ali uma nova e peculiar espécie alienígena que foi chama de Lokii. 

Este é o maior conto da coletânea e também o que mais desperta a curiosidade do leitor. Afinal, por que foi necessário estabelecer a quarentena? É possível superar o dilema ético que levou os cientistas a tomar esta decisão?

Essa é uma coletânea com ótimos contos de ficção científica que estimulam a imaginação e curiosidade do leitor. Uma ótima adição ao universo ficcional dos Imortais Efêmeros.

Quando os humanos foram embora – Gerson Lodi-Ribeiro

Essa história de ficção científica hard faz parte do universo ficcional Imortais Efêmeros, que explora um futuro distante em que a humanidade se tornou imortal e se desloca pela Via Láctea usando portais de teletransporte. Penso ser um pouco difícil falar em detalhes sobre a história e ao mesmo tempo, evitar spoilers. Então optei por fazer alguns comentários de natureza geral.

A imortalidade dos humanos deriva da tecnologia de teletransporte e essa ocupa uma condição mais evoluída também no campo moral, já tendo superado há tempos disputas mesquinhas e guerras.

A história narra o primeiro contato dos humanos como os Ilianos, uma espécie alienígena bastante peculiar que se desenvolveu numa lua, em ambiente aquático sob uma imensa crosta de gelo global. A primeira boa surpresa vem no primeiro capítulo, no qual o ponto de vista selecionado pelo autor é bem interessante, trazendo uma perspectiva única ao primeiro contato entre as espécies. Deste primeiro contato, nasce uma interessante relação entre humanos e Ilianos.

São exploradas questões de natureza individual e civilizatórias. É um pequeno épico que narra uma relação que se desenvolve ao longo de vários séculos.

A obra faz o leitor imaginar, em detalhes, um pouco dessa civilização humana do futuro, mas o mais notável é a rica concepção da espécie alienígena que escapa de muitos clichês que vemos em obras de ficção científica.

Você consegue imaginar uma espécie sem sentido de visão, tendo se devolvido sob a escuridão e em meio líquido, mas que conseguiu evoluir para se tornar uma civilização tecnologicamente avançada?

Essa é uma das questões intrigantes que a leitura pode trazer ao leitor.

Outra é: como salvar mundos inteiros da destruição a ser causada por uma anomalia solar?

Além dos temas e situações interessantes, contamos com a habilidade do autor para nos fazer imergir numa narrativa que imagina questões complexas e tão distantes da nossa realidade. Certamente uma das melhores obras já escritas da ficção científica brasileira.

Leia seguindo o link.

Arquivista – Vinícius Lobo

Adquiri essa HQ no FIQ 2022, pelo financiamento do Catarse, e finalmente ela ficou pronta e chegou esses dias. Já vimos aqui duas outras obras do autor, Ilha dos Ratos, uma mistura de fábula, crítica social e história de investigação no estilo Noir, e Caxinã, uma HQ nacional e independente sobre Kaijus, monstros gigantes inspirados em filmes da cultura pop japonesa, como Godzilla.

Em sua mais recente obra, Vinícius Lobo nos leva a uma narrativa dividida em três episódios, inspirada pelo formato do filme Memories (1995) de Katsuhiro Otomo. Neste universo, sobre o qual temos um vislumbre por três episódios, vemos um pouco dos acontecimentos em torno do surgimento, estabelecimento e modificação de uma máquina/inteligência artificial conhecida como Arquivista.

O primeiro episódio ocorre no passado e mostra as origens da máquina/organização, talvez ali no período da revolução industrial. Tudo começa com a usurpação de uma pesquisa.

O segundo, ocorre num tempo análogo à nossa época contemporânea, e envolve um incidente de consequências terríveis envolvendo a tripulação de um navio, que reflete no “vazamento” de armas biológicas sobre em uma cidade.

O terceiro episódio ocorre num futuro distópico em que o Arquivista se estabeleceu como uma entidade que monitora e controla a sociedade. Aqui vemos aspectos negativos que podem ocorrer com a sociedade quando uma ferramenta de inteligência artificial sob o controle de grupos de interesse se estabelece.

Talvez, possamos ler como uma alusão ao sistema atual que vemos em partes do mundo e da influência de grupos econômicos e tecnológicos sobre a vida social. Aqui, temos uma guerrilheira e hacker insatisfeita com a situação de seu mundo, lutando para modificá-lo a partir de seu elemento chave, o próprio código-fonte da inteligência artificial que influencia e modera o funcionamento social.

Uma das coisas que aprecio nas obras do autor é que ver que ainda é adepto do processo analógico de produção. Vemos aqui seus traços cuidadosos e bom domínio da construção de cenas em preto e branco com o bom e velho nankin.

Além disso, o autor vem demonstrando um domínio crescente da própria forma da narrativa visual inerente e única à nona arte. Então, o Arquivista é uma ótima opção para os apreciadores de uma narrativa de ficção científica, repleta de ação e que nos dá um vislumbre de um universo fictício, bastante particular, com um toque tupiniquim e que emerge da mente do autor.

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