Nem sempre extraí o mesmo prazer lendo diferentes livros de Michael Moorcock, mas sempre fiquei surpreso com os detalhes e com sua coragem de explorar os limites da criatividade. Mesmo não sendo um de seus melhores livros, é um dos meus autores favoritos.

The Dragon in the Sword trás de volta John Daker, o Campeão Eterno, aquele que encarnou Erekosë e outros tantos heróis como Eliric, Corum e Dorian Hawkmoon. John, é londrino, nascido em 1941, tendo quase a mesma idade do autor. Ele consegue, mais que outros, lembrar-se de suas aventuras passadas e futuras pelo Multiverso e sua participação no eterno embate entre o Caos e a Ordem.

Como é típico das muitas outras histórias, o destino do Campeão é trágico, pois ele nunca descansa, nunca morre ou ama de verdade.

Nesta aventura ele se vê no corpo de Flamadim, um príncipe de um dos seis reinos, um conjunto de dimensões que se interligam num ponto central. Os reinos e personagens tem nomes peculiares e que fazem parte da inventividade de Moorcock como autor. Por exemplo, Draachenheem, Rootsenheem e Maaschanheem.

Daker se vê como Flamadim, mas não faz ideia de quem seja. Mas logo surge seu companheiro nesta aventura, ninguém menos que um dos von Bek, o Conde Ulric. (The War Hound and the World’s Pain é sobre um de seus antepassados) Ele vem da mesma terra de Daker, porém é transportado do meio da segunda guerra mundial e está preocupado com derrotar Hitler e os nazistas. Aliás, os von Beks e sua luta contra os nazistas retornam na trilogia The Dreamthief’s Daughter, cuja protagonista é Oona von Bek, filha de Elric de Melninboné.

As histórias do Campeão Eterno se entrelaçam e fazem referências frequentes umas às outras. Os seis reinos estão ameaçados por um dos lordes do Caos, o Arquiduque Balarizaaf. Quando o Caos cresce demais, surge a força do Equilíbrio Cósmico, neste caso, Lorde Sepiriz, o Cavaleiro em Amarelo e Preto. É dele que vem as orientações para Daker e von Bek, mas também das próprias visões e sonhos de Daker. Ainda muito impressionado por sua última encarnação como Erekosë, Daker busca desesperadamente por seu grande amor, Ermizhad. E não demora a encontrar em um dos seis reinos, uma Eldren de nome Alisaard, uma contraparte de Ermizard que não o reconhece. Os Eldren são uma raça superior aos humanos, ali chamados de Mabden. No livro The Eternal Champion Erekosë luta ao lado dos Eldren para eliminar todos os Mabden.

O autor explora os conflitos internos de Daker devido à mescla de memórias de suas encarnações e também o horror das guerras e genocídios dos quais participou. É claro, há como tema recorrente um dos avatares da espada Stormbringer. Ao mesmo tempo, o livro é recheado com cenários exóticos, personagens e conceitos estranhos, como os dos reinos formados pelos “cascos”, imensos navios-cidade que navegam pelos seis reinos, as mulheres fantasmas canibais, o Cálice Sagrado, os Guerreiros das Fronteiras do Tempo, encontros com Hitler e Goebbels, com Príncipes Ursinos, guardiões de antiga sabedoria do Multiverso, etc. Algo que chamo de “caotiqueira moorcoquiana”.

Para quem busca ler os muitos livros que formam a mitologia do Multiverso é interessante ver novas relações se formando, como por exemplo, a sugestão de que os Meniboneanos são originados da reunião entre os Eldren machos e fêmeas que estiveram separados por muitas gerações.

Enfim, não foi um livro que gostei, em especial. O enredo é um pouco arrastado, seguindo uma fórmula de migalhas de pão, num dado momento, e sem antagonistas presentes ou muito bem trabalhados. Mas como peça do quebra-cabeças do Multiverso, cumpre bem seu papel.

Infelizmente, li a maioria dos livros de Moorcock antes do nascimento desse blog quando escrevia resenhas. Fico devendo um monte de links, mas se tiver interesse, pode ler tudo sobre o autor e suas obras nessa Wiki.

O livro saiu numa nova coleção de e-books que está com preços acessíveis.