Capa ElantrisComigo é assim, não sei com você. Quando pego um livro de fantasia para ler quero me envolver com os personagens e ser transportado para uma outra realidade. É por isso que tenho achado Brandon Sanderson um escritor maravilhoso.

Depois de ler alguns livros do Sanderson, percebemos algumas de suas virtudes: sólida construção de personagens, conflitos a serem resolvidos por estes personagens, criação de mundos de fantasia críveis, presença de tramas de cunho político, criação e uso de religiões como parte das tramas, sistemas de magia criativos e cujas regras ficam evidentes aos leitores, conferindo “realidade” à magia, capacidade de criar boas cenas de ação e em alguns casos, suspense.

Mas vamos a Elantris…

Saiu no Brasil pela editora Leya, 576 páginas. Assim como Warbreaker, este é um romance de um só volume, sem continuações (por enquanto). Foi o romance de estreia de Sanderson e para leitores que já leram outros livros do autor, a expectativa pode estar em alta e pode haver decepção à vista. Quando li, já sabia disto e sabia também que ele havia evoluído como escritor em suas séries Mistborn e Stormlight Archives. Então, foi tranquilo aceitar algumas coisas presentes no livro que não são “perfeitas”.

Elantris é uma cidadela arruinada coberta por lodo e sofrimento. Uma prisão onde são atirados mortos-vivos tomados por uma misteriosa maldição que aflige os habitantes do reino de Arelon e do país vizinho, Duladel. Tudo isto começou há dez anos. Antes disso, era uma cidade de luzes e maravilhas, habitada por homens que possuíam vastos poderes mágicos e que até eram reverenciados como deuses.

Personagens

A estrutura do livro nos leva a acompanhar três protagonistas, em capítulos intercalados, cada qual sob o ponto de vista deles.

O Príncipe Raoden, herdeiro de Arelon, que se vê tomado pela maldição/doença e nos mostra a Elantris decaída, pelo lado de dentro.

A Princesa Sarene é uma personagem feminina forte. Prometida de Raoden que chega a Arelon e tem que lidar com o fato de que o contrato de casamento firmado entre os reinos, a obrigou a tornar-se esposa/viúva de um príncipe defunto.

O alto clérigo Hrathen, missionário do agressivo Império Fjordênico que chega a Arelon com a missão de converter a nação para sua religião a fim de criar uma hegemonia teocrática no mundo.

Enquanto Raoden cabe no estereótipo de herói que tem o destino de salvar o mundo e ficar com a garota no final, Sarene não se enquadra totalmente no estereótipo de donzela em apuros, mostrando facetas de líder política e até de guerreira. Já Hrathen, parece fazer o papel de vilão, mas cede seu lugar a outros ao longo da trama.

Há também um elenco de coadjuvantes muito vivos e bem caracterizados. Como exemplos: Há Galadon, o “guia” de Raoden em Elantris; Ashe o Seon ligado a Sarene; e o fanático sacerdote Dilaf que cria algumas dificuldades para Hrathen.

Trama

Um mistério paira sobre Elantris: Por que sua magia desapareceu? Por que as pessoas ficaram doentes? Existe cura? Por que a cidade fica constantemente coberta de lodo e sujeira? Enquanto isso, do lado de fora, a situação política do reino é tensa. A nova monarquia que surgiu após a queda de Elantris ainda é frágil. O rei Iadon, pai de Raoden, ao contrário do filho, não é nada popular e sua forma de governo parece levar o país à ruína. A independência e felicidade do povo de Arelon ficam ameaçadas e o destino aponta para que se curvem ante a Religião Shu-Dereth e o Império Fjordênico. Como diz o alto sacerdote Hrathen: “Você descobrirá que o ódio pode unificar as pessoas mais rapidamente e com mais fervor do que a devoção jamais poderia.”

Não é uma trama que segue 100% perfeita (para os mais exigentes), com um probleminha ou dois que não vou mencionar para não adicionar spoilers. Muitos leitores não chegam a ficar incomodados com alguns dos artifícios utilizados para solucionar alguns conflitos da trama. Eu mesmo percebi, mas não fiquei. Talvez, o que me incomodou foi o ritmo da parte final do livro, em que tudo fica mais acelerado e que culmina com um final um pouco abrupto.

Como é comum em outros livros de Sanderson, há uma diversidade de temas que acompanham a trama. Neste caso, podemos citar a discussão sobre o papel da mulher na sociedade (machismo/feminismo). Tema que também aparece com força na série Stormlight Archives.

Magia

A desaparecida magia elantrina era baseada em caracteres de uma intrincada escrita de ideogramas chamados de Aons. Os nomes dos Aons e seus significados foram usados pelo autor para caracterizar personagens e lugares, mas isto não tem relação direta com a trama, é apenas “um extra” disponível no apêndice do livro. Criaturas mágicas chamadas Seons, que são bolas de luz inteligentes e fieis a seus mestres, são outro elemento interessante do sistema de magia do mundo.

Conclusão

É um romance de fantasia de volume único, criativo, bem executado, com personagens cativantes, magia que foge do tradicional, ação, trama que envolve política e religião e a exposição de outros temas, tais como liderança, a dor, adoecimento, machismo, etc. É um livro que vai certamente agradar os amantes da fantasia e que pode surpreender leitores que não estão habituados ao gênero.

The Emperor’s Soul é um livro mais curto do autor que se passa no mesmo mundo de Elantris, mas são estórias independentes. Adquiri e comecei a ler. Em breve, a resenha. Até lá!

4 / 5 stars