Já li uma quantidade razoável de romances de ficção científica (diria que o básico), a grande maioria, obras de autores estrangeiros como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Frank Herbert, Marion Zimmer Bradley, entre outros. Já na ficção científica de autores brasileiros, li alguns livros do organizador desta antologia, Roberto de Sousa Causo e um livro de Carlos Orsi. É verdade que conheço pouco, mas a série de antologias são uma boa porta de entrada para conhecer mais autores. Os dois outros livros dessa série, que veremos à seguir, são: Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras (2009) e As Melhores Novelas Brasileiras de Ficção Científica. (2011).
Roberto de Sousa Causo, além de ser um autor talentoso, é pesquisador de literatura tendo estudado vertentes da ficção científica tanto de autores estrangeiros como brasileiros. Suas antologias são um presente para aqueles que querem conhecer um pouco mais da FC brasileira, ou apenas, ler bons contos.
No primeiro livro da série temos uma boa variedade de autores e temas de épocas diferentes, desde Machado de Assis até autores contemporâneos. Antes de falar dos contos, vale comentar que os textos introdutórios que falam sobre cada conto e um pouco sobre a obra do autor são uma ótima adição, proporcionando ao leitor informações relevantes e interessantes.
A primeira boa surpresa da antologia certamente é o conto O Imortal, de Machado de Assis. Depois de ler o conto, lembrei muito do filme Highlander, aquele do “só pode haver um”. Uma expansão desse conto daria um bom romance ou filme. Nele temos um brasileiro do período colonial que obtém de um pajé um elixir da imortalidade. Seu filho é o narrador de sua longa vida, venturas e desventuras. A inclusão do conto na antoliga é algo que se justifica com alguma boa vontade, já que há um lado pseudo-científico utilizado explicar a fonte da imortalidade como sendo algo de natureza química e não simples pajelança.
Meu Sósia, de Gastão Cruls, não empolga muito, mas é um curioso caso de duplo que atormenta o protagonista durante suas visitas e pesquisas numa biblioteca.
Água de Nagasáqui, de Domingos Carvalho da Silva, narra a história de um sobrevivente da bomba atômica que não é “tradicionalmente” afetado pela radiação, causando desdobramentos trágicos àqueles que ficam à sua volta.
A Espingarda, de André Carneiro, é uma narrativa pós-apocalíptica, com forte temática de solidão e sobrevivência. Tudo acaba quando o sobrevivente, que se julgava o único, se encontra com outro. A atmosfera psicológica carregada do conto é seu ponto forte.
O Copo de Cristal, de Jerônimo Monteiro, é uma espécie de narrativa de viagem no tempo na qual não se viaja propriamente, mas apenas se obtém um vislumbre de outros tempos através de um dispositivo misterioso: um copo de cristal.
O Último Artilheiro, de Levy Menezes, é mais uma narrativa pós-apocalíptica na qual o sobrevivente encontra um abrigo e tenta usá-lo da melhor forma possível.
Especialmente Quando Sopra Outubro, de Rubens Teixeira Scavone, narra a história de uma garota que desenvolve o poder de trazer à realidade as projeções de sua imaginação.
Exercícios de Silêncio, de Finísia Fideli, foi um dos meus favoritos nessa antologia. Um piloto que cai numa colônia desconhecida se vê diante de um povo que possui um modo de vida bem diferente. Enquanto busca uma forma de reparar sua espaçonave vivencia um choque cultural. As reflexões que o protagonista desenvolve trazem um tema de profundidade psicológica muito benvinda. É aquele tipo de conto que dá um gostinho de querer ler mais obras que se passam na mesma ambientação.
A Morte do Cometa, de Jorge Luiz Calife, narra a tentativa de uma humanidade do futuro de salvar o Cometa Halley de sua inexorável destruição. Muito interessante o aspecto da história ser narrada/apoiada por cobertura midiática.
A Mulher Mais Bela do Mundo, de Roberto de Sousa Causo, narra o encontro entre um fotógrafo brasileiro e uma bela mulher num museu em Nova Iorque. Porém, tudo isso ocorre num contexto em que a civilização humana está recebendo visitantes alienígenas. É um conto que causa fortes impressões. A questão tratada surge quando um alienígena tem contato com o trabalho do fotógrafo e as consequências que isso trazem. Também, um dos meus favoritos da antologia.
A Nuvem, de Ricardo Teixeira, é uma história intrigante no seu desenrolar. Nela, temos os habitantes de um pequeno e isolado vilarejo que passa por um longa seca. Uma misteriosa nuvem chega na cidade, e depois da chuva, uma série de acontecimentos surreais movimenta a vida do vilarejo.
Achei a antologia muito boa e que vale a pena ser lida. Para encerrar, tomo aqui um trecho do texto de divulgação da obra: “A primeira antologia retrospectiva da ficção científica brasileira, a primeira a propor um conjunto de contos-referência para o gênero no Brasil”.
Compre os livros dessa série:
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Ricardo Brandes
Ótima dica! Já anotada!
Roberto Causo
Muito grato pela resenha, Carlos Rocha! Estou repassando aos autores (os que estão vivos e alguns dos seus herdeiros) e à editora também. Aguardo ansioso a sua leitura das outras duas antologias. Uma quarta (de contos) foi montada, mas ainda não tenho notícias da sua publicação. Grande abraço!
Carlos
Oi Roberto, é sempre um prazer! O tempo é que uma coisa difícil de domar para conseguir ler tanta coisa e resenhar… Mas aos pouquinhos chegamos lá!
Alan
Já quero ler!!!