Atualizado – veja uma palestra do autor no final do artigo.

Aproveitando que estou lendo o romance The First King of Shannara de Terry Brooks e que ele é um dos autores listados no livro 100 Must Read Fantasy Novels, resolvi traduzir essa entrevista que ele cedeu ao site Goodreads em agosto de 2010. Prefere ler o original em inglês? Vai lá!

Terry BrooksO escritor norte-americano Terry Brooks tem escrito títulos de fantasia épica por mais de 30 anos. O livro, The Sword of Shannara tornou-se um best-seller em 1977 e foi o prímeiro título publicado pela Del Rey Books, que atualmente publica muitos títulos de ficção científica e fantasia. Desde então, Brooks escreveu mais de vinte romances no universo de Shannara universe, cheios de elementos familiares como elfos, magica e buscas heróica num planeta Terra futurístico séculos após uma devastação nuclear e química. Bearers of the Black Staff, seu mais novo livro, introduz uma nova geração dos Shannara. Brooks revealou ao Goodreads sua vasta estratégia para escrever milhares de anos de história.

Goodreads: Bearers of the Black Staff inicia 500 anos após seu último trabalho, The Gypsy Morph. O que os leitores podem esperar desta nova aventura?

Terry Brooks: É parte da pré-história do mundo de Shannara. Ocorre como uma saga de gerações separada das demais. Porque ocorre 500 anos no futuro, temos todo um novo grupo de personagens, e é desta maneira que eu gosto de trabalhar. Em The Gypsy Morph, os sobreviventes do mundo antigo estavam isolados em um vale protegido. Agora essas proteções que funcionaram por 500 anos estão se perdendo, então, eles têm que voltar para o mundo que foi destruído e descobrir o como estão as coisas lá fora. Para mim, a pergunta era: Se destruíssemos nosso mundo, não restando literalmente nada, e fossemos reduzidos ao modo de vida de caçadores-coletores, como é voltaríamos ao ponto em que a civilização fosse capaz de voltar a funcionar? Eu desejava saber como responderíamos a uma situação assim e como faríamos para retormar o estágio anterior.

GR: The Sword of Shannara foi publicado em 1977. Você imaginava que ainda estaria escrevendo sobre esse mundo em 2010?

TB: Eu acho que qualquer autor principiante, se eles fossem todos como eu (e eu suspeito que a maioria é), só quer emplacar alguma coisa. Então, você escreve o primeiro livro, e você reza para que alguém faça algo com ele. Talvez ele possa encontrar um público. Você não está pensando em nada além disso. Eu me lembro que quando Judy-Lynn del Rey (minha editora) me ligou e perguntou: “Você está trabalhando no próximo livro?” Pensei em dizer-lhe: “Bem, é claro que eu sou.” Mas isso era uma mentira pura e simples, pois eu ainda nem tinha pensado nisso.
GR: A série Shannara percorre 1,000 anos, sem contar os 1,000 anos adicionais de pré-história [veja a linha do tempo], e agora incluir mais que vinte romances. Como você mapeia alto tão grande?

TB: Bem, o problema com tudo isso, é claro, é que eu escrevi The Sword of Shannara primeiro, e comprometi-me a dizer que o mundo Shannara vinha após 1.000 anos de luta que sucederam a destruição do velho mundo. Então eu me limitei aos tais 1.000 anos, gostando ou não. A única maneira de lidar com algo assim foi dividi-la em um conjunto de experiências que poderiam acontecer com as pessoas que sobreviveram ao velho mundo. É impossível pensar, francamente, até cinco livros à frente, então eu trabalho em incrementos e trabalho com eles, um de cada vez. Normalmente o que acontece é que quando eu termino um conjunto, este me diz onde o próximo precisa ir e o que precisa acontecer.

GR: Você acha que um novo leitor poderia começar no início de qualquer um destes conjuntos?

TB: Eles são estruturados de modo que você pode entrar em qualquer ponto de um conjunto de livros. Francamente, eu não posso acreditar no número de pessoas que começam no meio de um conjunto. Isso me deixa furioso. Mas sempre foi a minha intenção de escrever essa coisa toda em segmentos, a fim de permitir que um leitor tome qualquer ponto e depois possa ir para trás, ou para frente, e não se sentir como se tivesse perdido alguma coisa no processo.

GR: Uma integrante do Goodreads, Alexandra J.W., gostaria de saber: “Você incorporou alguma mensagem escondida ou alegoria… em seus trabalhos anteriores? Ou é apenas ficção pura?”

TB: Essa é uma boa pergunta. Quando eu estava começando e contava com o conselho e experiência de Lester del Rey, que foi meu primeiro editor e meu mentor, sua primeira regra sobre a escrita era que minha primeira obrigação para com os seus leitores era de contar uma boa história. Se isto não está presente, então nada mais que você faça faz qualquer diferença. Então, eu sempre começo tentanto descobrir como contar uma história que vai manter os leitores virando as páginas. Se eles só captarem esta parte e nada mais, tudo bem. Por outro lado, normalmente estou escrevendo sobre algum tipo de problema. Eu uso isso como o combustível para o fogo interno de escritor durante o ano em que estou escrevendo o livro. Eu costumo encontrar algo que está acontecendo em nosso próprio mundo que me incomoda bastante fazendo com que eu precise escrever a respeito. O último [assunto] que tomei na High Druid series tem a ver com a redenção. O quanto você poderia transgredir em seu comportamento e ainda ser perdoado? Ou você poderia? Com todos os nossos homens públicos, alguém está sempre transgrendindo os limites. Por quanto tempo podemos perdoá-los? Quando é que vamos dizer, “Você conseguiu fazer uma reparação, ou, você se tornou uma pessoa melhor.” Eu queria explorar como eu realmente me sentia em relação a isso porque é uma questão delicada.

GR: O integrante do Goodreads, Gaijinmama, diz que a The Sword of Shannara é recomendado na turma de Ficção Científica e Fantasia em que ela leciona. Ela pergunta: “Como foi ser o autor de tal romance de fantasia tão inovador, o primeiro na lista de best-sellers do New York Times? Como você diria que sua popularidade influenciou o desenvolvimento do gênero?”

TB: Devo dizer, em primeiro lugar, que quando eu escrevi o livro, eu estava vivendo nos interior do Illinois e não tinha nenhum contato direto com o mundo editorial. Os Del Reys foram muito parcimoniosos me dar qualquer informação. Eles preferiram que eu ficasse no meu canto e escrevesse. Então, eu sabia de pouca coisa. Sobre estar no na lista do The New York Times, eu pensei, “Oh, isso é bom”, mas eu pensava que era algo que acontecia com muita gente.

Eu só descobri que ele provocou um salto para as vendas de um conjunto de livros no campo fantasia, muitos anos depois. Descobri que Lester del Rey escolheu este livro, porque ele estava tentando provar que a fantasia estava tendo pouca atenção afora Tolkien. Ele sentiu que havia um enorme mercado, e se ele podudesse encontrar o livro certo, ele poderia fazê-lo vender na lista dos mais vendidos, assim como que qualquer outra ficção e provar seu ponto. Isso é o que ele pretendia fazer, e é isso que ele fez. Provavelmente significava mais para ele do que para mim, embora isto tenha certamente me proporcionado uma carreira.

GR: A integrante, Ronda Tutt, diz: “Eu amo o seu trabalho, e se eu tivesse a chance de perguntar-lhe qualquer coisa que seria, de onde é que ele tira os nomes de seus personagens e [lugares]?”

TB: Eu mantenho uma lista. Eu viajo ao redor do mundo e escrevo nomes que são interessantes. Às vezes os tiro de placas nas ruas, mapas, fachadas, e às vezes eu os tiro de nomes que eu vejo quando estou lançamentos (noite de autógrafos). Eu me sinto livre para roubar de todos os lugares. É um processo de ajustar nomes a lugares, criaturas, e as pessoas, mas fica muito mais fácil, se você tiver um monte de nomes para escolher do que se você tiver que sentar e, de repente, elaborar 30 nomes.

GR: A integrante, Saharial, pergunta: “Existe algum lugar do mundo que você tenha visitado, cujas paisagens inspiraram Shannara? E, você encontrou lugares que são como Shannara depois de ter escrito sobre eles?”

TB: A resposta é sim. A geografia é um personagem do livro. Você está criando um mundo imaginário, de modo que isto se torna muito importante. Quase em todos os lugares que eu vou, eu tiro alguma coisa do que eu vi e que eu possa usar nos livros, e isto aparecerá mais tarde. Eu estive em toda a Europa, Oriente Médio, África, Austrália e Canadá. Eu vivi por um longo tempo na grande ilha do Havaí, e se você ler The Elf Queen of Shannara, a ilha de Morrowindl é a grande ilha do Havaí. Não é bem a mesma coisa, mas é geograficamente o mesmo.

GR: Muitos fãs perguntaram se haverão mais livros da série Magic Kingdom of Landover

TB: Bem, acabei de terminar um no ano passado, então diga-lhes para se acalmarem. [risos] Eu deixei a porta aberta no final para vir mais um livro, e eu tenho um em mente. Eu tenho que encontrar tempo para escrever, mas isso provavelmente não vai acontecer por algum tempo.

GR: Do mesmo modo, muitos fãs perguntaram se há progresso para filmes de Shannara ou Magic Kingdom. Alguma novidade?

TB: A opção do Magic Kingdom foi descartada pela Universal há alguns meses atrás, e está agora sob consideração por outro grupo. Eu não posso acreditar, francamente. Eu fiz mais dinheiro com esse livro com a venda de direitos que qualquer um tem o direito de fazer. Ele continua vindo de volta à vida, comoum morto-vivo. A série Shannara está com a Warner Brothers, mas ela está prestes a ser descartada. Quando isso acontecer, ela provavelmente vai ir para outro lugar, mas eu não posso falar sobre isso agora.

GR: Descreva um dia típico em que você escreve e todos seus hábitos de escrita incomuns.

TB: Levanto-me às 6 da manhã com bastante regularidade e trabalho até o meio dia. Às vezes vou trabalhar na parte da tarde, também, dependendo se eu tenho coisas no ar e quero continuar. Eu não trabalho todos os dias. Eu trabalho quando tenho vontade, mas eu também faço um livro por ano e tenho que organizar meu tempo, a fim de manter este cronograma. Meu hábito de escrita mais incomum é que eu sou uma espécie de outra versão do Monk. Eu tenho que trabalhar no meu espaço e nunca em qualquer outro lugar. Eu tenho minhas coisas, e está tudo onde quero que esteja. Eu não gosto perturbado. Eu não alinho meus lápis, mas estou bastante perto.

GR: Que autores, livros e ideais o influenciaram?

TB: Em diferentes momentos da minha vida, coisas diferentes foram importantes. Quando eu estava no meio da adolescência, os escritores de aventura europeus foram muito influentes. O trabalho de William Faulkner foi muito influente na faculdade, quando eu estava apenas começando The Sword of Shannara e, simultaneamente, escrevia minha tese sobre Faulkner. Claro, O Senhor dos Anéis foi uma influência enorme. Agora eu tendo a ler todos os tipos de coisas. Eu não leio apenas fantasia. Frequentemente não-ficção é uma grande inspiração. O mundo não-ficção [pode] sugerir possibilidades que eu poderia usar em meus mundos ficcionais.

GR: O que está lendo agora?

TB: Acabei de terminar AThe Passage de Justin Cronin, que adorei. Estou lendo um de James Lee Burke. Eu vou ler o novo livro de Suzanne Collins, Mockingjay, quando ele sair no próximo mês. Na minha mesa de cabeceira tenho alguns livros de mistério suecos que eu quero ler. Eu tenho um livro de Helena de Tróia por Ben Bova que eu vou ler. Eu sou como a maioria das pessoas que estão no mundo dos livros: Eu mantenho pilhas de livros ao redor, passo por eles e vou para outras coisas. Minha casa é toda cheia de livros. Essa é a minha vida.

GR: O que vem adiante?

TB: Eu estou trabalhando em um livro que é o primeiro de uma trilogia que ocorre após High Druid of Shannara, que está no futuro do mundo Shannara. Eu estou fazendo algo completamente novo. É centrado em torno de uma busca por todas as elfstones mencionadas várias vezes nos outros livros. Elas desapareceram no velho mundo de fadas, e ninguém sabe o que aconteceu a elas. Nesta série de livros, vamos descobrir. As pessoas têm perguntado sobre isso há anos, então eu acho que haverá algum interesse muito forte nesta história. Ainda no outro dia eu estava desejando que eu [já] não tivesse usado o título The Elfstones of Shannara, porque seria muito melhor se eu pudesse usá-lo agora!

Gostou da entrevista? Veja o autor numa palestra do TED intitulada: Por que escrevo sobre elfos.