Guerras Secretas é um crossover de super-heróis produzido pela Marvel Comics nos anos 1980. E é considerada a primeira “megassaga” dos quadrinhos. Embora já tenha havido crossovers antes envolvendo vários heróis e vilões, um evento dessa proporção nunca havia sido feito antes e ele moldaria a indústria dos quadrinhos daí em diante. Hoje em dia temos grandes aventuras que afetam as vidas e as revistas de vários super-heróis quase todo mês. Os mais recentes são King in Black, da Marvel, e Death Metal, da DC. Mas nem sempre foi assim. Eventos mercadológicos e a eterna batalha Marvel x DC foram fundamentais para esse acontecimento. E ainda bem que foi assim!

Histórico da publicação

A série foi concebida pelo editor-chefe da Marvel Comics, Jim Shooter, que foi também roteirista. Os desenhos foram de Mike Zeck e Bob Layton. E o editor Tom DeFalco. Na 11ª edição da revista Marvel Age, publicada em fevereiro de 1984, uma coluna de notícias anunciou a série como Cosmic Champions. Um mês depois, a 12ª edição da Marvel Age trazia uma história de capa da série, agora com o título revisado de Secret Wars.

Tom DeFalco, na introdução do encadernado da série que saiu em 1992, disse que o responsável por essa aventura foi a Dreaded Competition (DC Comics). Foi a Distinta Concorrência que, mesmo sem querer, desencadeou os eventos que levariam a criação das Guerras Secretas.

No início dos anos 80 as action figures estavam em alta e coleções como G. I. Joe e Masters of the Universe faziam muito dinheiro. E nesse contexto, uma empresa de brinquedos chamada Kenner (que futuramente seria comprada pela Hasbro) adquiriu os direitos para produzir action figures da DC Comics. E tiveram um grande sucesso de vendas.

Então, a Mattel, que já tinha os direitos de Masters of the Universe, procurou a Marvel para lançar sua linha de super-heróis. E a Mattel fez algumas exigências que moldaram de certa maneira a saga. Logicamente ela queria somente os maiores heróis e vilões da Marvel. Além disso, pediram um evento editorial que colocasse esses personagens juntos e ajudasse na divulgação da nova linha de brinquedos. O editor chefe da Marvel, Jim Shooter juntou essa ideia a um pedido recorrente dos fãs, uma aventura que reuniria todos os heróis e vilões da editora numa mesma história. Ali nascia a primeira megassaga dos quadrinhos e decidiu ele mesmo ser o escritor da série. É claro que antes disso, heróis e vilões faziam parcerias e crossovers já a muitos anos, mas nunca antes um acontecimento teve reflexo em tantas revistas mensais e envolveu tantos personagens quanto Guerras Secretas.

Quanto ao nome, a Mattel fez testes de grupo que indicaram que as crianças reagiam positivamente as palavras wars (guerras) e segredo (secret) e a Marvel criou o nome Secret Wars. A Mattel pediu também que alterassem a armadura do Dr Destino pois ela parecia muito medieval e eles queriam um aspecto mais tecnológico. O mesmo foi falado para o aspecto do Homem de Ferro. Tudo com base nos testes que eles fizeram antes. Por último, disseram que deveria haver novas fortalezas, veículos e armas para dar valor adicional.

Os títulos do crossover incluem The Amazing Spider-Man # 249-252, The Avengers # 242-243, Capitão América # 292, The Incredible Hulk (vol. 2) # 294–295, Homem de Ferro # 181-183, The Thing # 10-22, Fantastic Four # 265, Marvel Team-Up # 141, Thor # 341 e 383, e The Uncanny X-Men # 178–181. Além das doze edições do título.

Enredo

Tudo começa quando a entidade chamada Beyonder descobre o universo Marvel. Até então, essa entidade vivia num universo paralelo onde ela era única criatura senciente. Após observar as lutas entre os heróis e os vilões por um tempo, Beyonder promove uma batalha nunca antes vista entre os maiores heróis e vilões do universo Marvel, oferecendo ao grupo vencedor, como prêmio, a realização de todos os seus desejos.

Poucas séries na cronologia Marvel foram tão importantes como Guerras Secretas, uma imensa história em 12 partes, envolvendo os principais heróis e vilões do universo. A lista de convocados envolve medalhões do porte de Vingadores,Homem-Aranha, os X-Men e Hulk, do lado dos heróis, e Doutor Destino, Lagarto, Ultron e Galactus do lado dos vilões.

A premissa é simples: uma entidade cósmica chamada Beyonder cria um planeta e transporta para lá os seres mais poderosos da Terra, dividindo-os em dois grupos. Sem mais delongas, Beyonder diz: “Destruam seus inimigos e todos os seus sonhos serão realizados! Nenhum de seus desejos me é impossível de realizar!” Pronto. A confusão está armada e brigas começam a surgir dos dois lados.

Do lado heroico, o motivo para a discussão é a presença de Magneto, o arqui-inimigo dos X-Men, que não é bem recebido para lutar do lado de Capitão América e companhia, por mais que Charles Xavier, o principal antagonista do mestre do magnetismo, defenda sua presença no grupo. Durante determinado tempo os heróis ficam divididos, até o momento do embate com Galactus, onde eles se reúnem e ficam unidos até o fim da história.

Do lado do mal, a disputa pelo poder e pela liderança do grupo é o estopim de suas discussões. Também o fato de Galactus estar colocado ao lado dos vilões é discutível, uma vez que o personagem é uma entidade cósmica, longe das definições de “bem” e “mal”. Outra passagem discutível é o posicionamento como vilão do Homem Molecular, em especial, após seu romance com Vulcana.

Esta série é famosa, principalmente pelas repercussões que teve na cronologia dos personagens. A mais afetada foi, sem dúvida, a do Homem-Aranha, que encontrou, no planeta criado por Beyonder, o simbionte que se tornaria o seu famoso uniforme negro. Empolgado com uma roupa nova que não rasgava, que se tornava qualquer tipo de roupa civil e que, principalmente, produzia sua própria teia, o Homem-Aranha traz este uniforme de volta à Terra e continua a usá-lo em suas aventuras, mesmo após o fim da guerra de Beyonder, culminando com a criação do personagem Venom.

Publicação no Brasil

Conhecida também pelo título original americano, Secret Wars, foi lançada no Brasil em 1986 pela Abril Jovem. Fazia parte de uma campanha publicitária mundial da Marvel, com o licenciamento de brinquedos da série. Como os direitos de licenciamento da linha de brinquedos no Brasil já haviam sido concedidos à Gulliver, empresa famosa no país por ter sido fabricante de brinquedos Marvel e DC nos anos 70 e 80, a série em quadrinhos precisava ser lançada no Brasil. No entanto, a cronologia de vários heróis estava defasada em relação à cronologia americana. A solução da Abril foi alterar partes da história, suprimindo inclusive personagens como Vampira e Capitã Marvel, e também modificando o final da saga, para que tudo se encaixasse no momento em que a Marvel estava situada em terras Tupiniquins. Anos depois, já na época onde a história se encaixaria na cronologia, a Abril lançaria um resumo dessa história, na revista Capitão América #119, na forma como ela foi originalmente concebida. Anos mais tarde, na revista A Teia do Aranha, a Abril relançaria na íntegra as Guerras Secretas originais.

Em 2007, a Panini Comics, atual responsável pelas publicações Marvel no Brasil, lançou novamente esta saga na íntegra, em uma única edição encadernada no formato original (formato americano). Como parte da Coleção Oficial de Graphic Novels da Marvel, da Editora Salvat, Guerras Secretas foi relançada em duas edições de capa dura, a primeira parte tendo sido lançada em janeiro de 2015 e a segunda em fevereiro do mesmo ano. A saga foi republicada novamente pela Panini em 2016, dessa vez no formato da Coleção Histórica Marvel, em quatro volumes. Ainda em 2016, um encadernado em capa dura compilando todo o arco original foi lançado pela Panini.

Porque ler

Além dos fatores curiosidade e histórico, nessa série temos vários acontecimentos que moldaram o Universo Marvel como o conhecemos hoje. A origem do uniforme negro do Homem Aranha, que viria a se tornar o Venom, o início do papel de Magneto como um anti-herói, o surgimento das personagens Vulcana e Titânia, a volta do Hulk ao seu lado irracional, o Coisa voltando a ser humano, entre várias outras coisas.Os desenhos de Mike Zeck são muito bons, claros e limpos. E é uma boa leitura que vale ser feita.

Este foi um artigo escrito pelo VitorX do podcast, X-Wars.

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