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Quando os humanos foram embora – Gerson Lodi-Ribeiro

Essa história de ficção científica hard faz parte do universo ficcional Imortais Efêmeros, que explora um futuro distante em que a humanidade se tornou imortal e se desloca pela Via Láctea usando portais de teletransporte. Penso ser um pouco difícil falar em detalhes sobre a história e ao mesmo tempo, evitar spoilers. Então optei por fazer alguns comentários de natureza geral.

A imortalidade dos humanos deriva da tecnologia de teletransporte e essa ocupa uma condição mais evoluída também no campo moral, já tendo superado há tempos disputas mesquinhas e guerras.

A história narra o primeiro contato dos humanos como os Ilianos, uma espécie alienígena bastante peculiar que se desenvolveu numa lua, em ambiente aquático sob uma imensa crosta de gelo global. A primeira boa surpresa vem no primeiro capítulo, no qual o ponto de vista selecionado pelo autor é bem interessante, trazendo uma perspectiva única ao primeiro contato entre as espécies. Deste primeiro contato, nasce uma interessante relação entre humanos e Ilianos.

São exploradas questões de natureza individual e civilizatórias. É um pequeno épico que narra uma relação que se desenvolve ao longo de vários séculos.

A obra faz o leitor imaginar, em detalhes, um pouco dessa civilização humana do futuro, mas o mais notável é a rica concepção da espécie alienígena que escapa de muitos clichês que vemos em obras de ficção científica.

Você consegue imaginar uma espécie sem sentido de visão, tendo se devolvido sob a escuridão e em meio líquido, mas que conseguiu evoluir para se tornar uma civilização tecnologicamente avançada?

Essa é uma das questões intrigantes que a leitura pode trazer ao leitor.

Outra é: como salvar mundos inteiros da destruição a ser causada por uma anomalia solar?

Além dos temas e situações interessantes, contamos com a habilidade do autor para nos fazer imergir numa narrativa que imagina questões complexas e tão distantes da nossa realidade. Certamente uma das melhores obras já escritas da ficção científica brasileira.

Leia seguindo o link.

Retrospectiva 2023

Adquiri o costume de fazer uma publicação de para arrematar cada ano. (Veja as últimas: 2021 e 2022). Em muitas delas, mantive o foco em falar das publicações aqui no site e de acontecimentos relacionados aos meus livros e HQs.

Neste ano, não posso deixar de registrar alguns aspectos pessoais. Alguns devem saber que em 2021 fiz uma cirurgia na coluna e melhorei bastante, mas não 100%. Configurou-se uma situação nova que é tocar a vida, day job, família e projetos convivendo com um quadro de dor crônica. Não quero aqui ficar me lamentando, apenas desejo registrar que isso tem impactado meus progressos na literatura e quadrinhos.

Li muitos livros e HQs em 2023 que não tive energia para resenhar. Isso impactou a quantidade de postagens por aqui. Em relação aos projetos literários, este ano foquei em uma coisa de cada vez.

O Bruxo e a Foice Sombria

No primeiro semestre, meu foco foi concluir o primeiro manuscrito de um novo romance: O Bruxo e a Foice Sombria. Lancei a versão beta no Wattpad.

Esse livro é situado no mesmo universo do livro O Velho a Devoradora de Almas e conta a história de Kudis Le’Daman, um anti-herói em busca de vingança e poder.

O Homem-Café

Meu primeiro semestre também foi bem intenso para fechar o roteiro do longa-metragem de animação do Homem-Café. Foi uma experiência nova e rica pra mim. Desenvolver um roteiro com quarto profissionais no esquema de sala de roteiristas foi bastante desafiador. Felizmente, conseguimos conseguir o projeto dentro do prazo e agora aguardo os próximos passos a serem desenvolvidos junto ao Pólen Estúdio para a produção do filme.

Tempestade de Ficção

Após concluído, meu foco esteve no lançamento, em julho, do terceiro volume da série antológica Tempestade de Ficção: Mutantes e Aliens. Minha meta de lançar uma nova edição por ano segue firme.

A CDQCON e a Masmorra do Infinito

Então surgiu a oportunidade de participar da feira CDQCON, que deveria ter ocorrido em dezembro, mas foi infelizmente adiada. Entretanto, até isso ocorrer, foi um ótimo motivador para preparar 3 novos lançamentos impressos. Produzi as edições físicas de Tempestade de Ficção 2 e 3. E comecei um projeto de HQ do zero, a sprite comic: Masmorra do Infinito. (que aliás, me diverti muito produzindo).

Essas três edições ficaram prontas a tempo do evento, mas como foi adiado, acabei ficando sem energia para organizar um lançamento, ainda que apenas virtual. Deixei as caixas aqui descansando e em 2024 irei avaliar um momento para fazer esse lançamento.

Além da versão impressa, é possível acompanhar essa HQ pelo Funktoon ou Fliptru.

Com isso, fique “livre” novamente e agora no finzinho do ano escrevi o segundo manuscrito do Bruxo e a Foice Sombria e alguns contos do Tempestade 4.

Resenhas

Artigos

Lançamentos

Conteúdos mais acessados em 2023

  1. RPG e criação de personagens – V – Vantagens e Desvantagens
  2. Worldbuilding parte VII – Magia e Sistemas de Magia
  3. Os 7 melhores livros sobre escrita criativa (que já li)
  4. Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica – Org. Roberto de Sousa Causo
  5. Worldbuilding parte I – Os pequenos detalhes

Perspectivas para 2024.

Esses 2 anos convivendo com dor crônica tem me feito repensar meus movimentos como autor. Cheguei a pensar em desistir, largar tudo, cuidar mais da minha saúde, família e day job… Mas outra ideia foi se configurando. A de prosseguir, mas em ritmo menos acelerado…

A primeira novidade já chega em janeiro. Meu conto, Nara-retalha, estará integrando a nona edição da Revista Literatura Fantástica.

Em 2024, há previsão para nova edição do FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos. Vou tentar participar, pois o evento de 2022 foi excelente! É uma boa oportunidade para levar meus lançamentos. Talvez, até lá, eu faça a edição #2 de Masmorra do Infinito. Para 2024 minha meta é publicar ao menos um episódio da série por semana.

Pretendo terminar de escrever e lançar o e-book, Tempestade de Ficção 4, Fantasia Mecanizada. E talvez, lançar o romance O Bruxo e a Foice Sombria.

Ficarei torcendo para o desenhista da HQ, Quill, o exterminador de demônios ter disponibilidade para trabalhar nos volumes 2 e 3, pois em 2023, foi inviável tocar o projeto. Falando em Quill, escrevi uma nova versão do romance, mas ainda pretendo passar por um processo editorial antes de lançar. Quem sabe em 2024?

Venho pensando também em fazer um reboot do meu universo de romances Terra das Nove Luas. Vamos ver se em algum momento encontro fôlego para esta empreitada.

Enfim, se você me acompanhou até aqui, muito obrigado. Ficam meus votos de um ótimo ano de 2024, com muita saúde e realizações!

Arquivista – Vinícius Lobo

Adquiri essa HQ no FIQ 2022, pelo financiamento do Catarse, e finalmente ela ficou pronta e chegou esses dias. Já vimos aqui duas outras obras do autor, Ilha dos Ratos, uma mistura de fábula, crítica social e história de investigação no estilo Noir, e Caxinã, uma HQ nacional e independente sobre Kaijus, monstros gigantes inspirados em filmes da cultura pop japonesa, como Godzilla.

Em sua mais recente obra, Vinícius Lobo nos leva a uma narrativa dividida em três episódios, inspirada pelo formato do filme Memories (1995) de Katsuhiro Otomo. Neste universo, sobre o qual temos um vislumbre por três episódios, vemos um pouco dos acontecimentos em torno do surgimento, estabelecimento e modificação de uma máquina/inteligência artificial conhecida como Arquivista.

O primeiro episódio ocorre no passado e mostra as origens da máquina/organização, talvez ali no período da revolução industrial. Tudo começa com a usurpação de uma pesquisa.

O segundo, ocorre num tempo análogo à nossa época contemporânea, e envolve um incidente de consequências terríveis envolvendo a tripulação de um navio, que reflete no “vazamento” de armas biológicas sobre em uma cidade.

O terceiro episódio ocorre num futuro distópico em que o Arquivista se estabeleceu como uma entidade que monitora e controla a sociedade. Aqui vemos aspectos negativos que podem ocorrer com a sociedade quando uma ferramenta de inteligência artificial sob o controle de grupos de interesse se estabelece.

Talvez, possamos ler como uma alusão ao sistema atual que vemos em partes do mundo e da influência de grupos econômicos e tecnológicos sobre a vida social. Aqui, temos uma guerrilheira e hacker insatisfeita com a situação de seu mundo, lutando para modificá-lo a partir de seu elemento chave, o próprio código-fonte da inteligência artificial que influencia e modera o funcionamento social.

Uma das coisas que aprecio nas obras do autor é que ver que ainda é adepto do processo analógico de produção. Vemos aqui seus traços cuidadosos e bom domínio da construção de cenas em preto e branco com o bom e velho nankin.

Além disso, o autor vem demonstrando um domínio crescente da própria forma da narrativa visual inerente e única à nona arte. Então, o Arquivista é uma ótima opção para os apreciadores de uma narrativa de ficção científica, repleta de ação e que nos dá um vislumbre de um universo fictício, bastante particular, com um toque tupiniquim e que emerge da mente do autor.

Skyward – Conquiste as estrelas – Brandon Sanderson

Há algum tempo não lia um livro de Brandon Sanderson, que normalmente escreve fantasia, como o romance Elantris, as séries Mistborn e Stormlight. Entretanto, Skyward é uma ficção científica! Foi uma leitura muito prazerosa e que deixou um gosto de quero mais… Skyward, 606 páginas (Editora Planeta) marca o início de uma quadrilogia (algo que meu bolso não agradece). 😕

Direcionada ao público jovem, a série apresenta uma narrativa leve e divertida, permeada por ação e humor. Em um contexto altamente tenso, a trama desenrola-se em Detritus, um planeta alienígena isolado, onde a humanidade enfrenta constantes ameaças dos Krell. Especificamente, destaca-se a possibilidade de ataques por bombas extremamente potentes, conhecidas como ‘destruidoras de vida’. Em resumo, a humanidade está à beira da extinção.

A protagonista, Spensa, é uma jovem determinada a superar as sombras do passado de seu pai, piloto que ficou estigmatizado por uma atitude covarde. Ela que provar seu valor como piloto de caça estelar e também limpar o nome do pai. A narrativa tem um bom ritmo e mantém o leitor fisgado. 

Sanderson constrói um mundo fascinante, onde os descendentes de um naufrágio espacial lutam pela sobrevivência, estando sempre sob a sombra da derrota e extermínio. Um dos pontos fortes do livro são as batalhas espaciais entre os caças da resistência e as forças alienígenas. “Skyward” também destaca a habilidade única de Sanderson em criar sistemas de magia e ciência detalhados, mesmo que, neste caso, a ênfase esteja na tecnologia futurista e nas complexidades das batalhas no espaço. 

Ainda sobre a ambientação, Detritus é cercado por um cinturão de “lixo espacial”, parte dele ainda operacional, que atrapalha as comunicações e impede que os Krell tenham uma vantagem definitiva sobre os humanos.

Spensa Nightshade é uma protagonista forte, resiliente, um pouco engraçada e com um temperamento explosivo. O elenco de suporte e antagonistas também são memoráveis, sendo os destaques ficam para M-Bot, uma inteligência artificial divertida e sarcástica. Jorgen, rival de Spensa na academia de pilotos, é alguém com quem ela desenvolve uma relação complicada, mas interessante de acompanhar. A Almirante Ironside, líder militar da Defesa da Humanidade, destaca-se como uma figura autoritária que constantemente desafia Spensa, tornando-se sua principal antagonista.

Cruzando a trama principal, o livro explora temas como identidade, preconceito e esperança. Skyward é uma história sobre encontrar seu lugar no mundo, superar os obstáculos e nunca desistir de seus sonhos.

Por outro lado, em comparação com outras obras de Sanderson, Skyward tem uma escala mais modesta. A história foca em um grupo reduzido de personagens e em um conflito relativamente limitado, ao contrário de seus outros livros que apresentam narrativas épicas com personagens e conflitos mais extensos e complexos.

Enfim, “Skyward” é uma boa adição ao catálogo de Brandon Sanderson, sendo capaz de cativar os leitores e sendo também uma boa leitura de entrada para o gênero de ficção científica. Uma leitura obrigatória para aqueles que buscam uma aventura espacial, do tipo space opera, repleta de reviravoltas emocionantes e personagens memoráveis. 🙂

Solitude – Erick Santos Cardoso

Imagem retirada do financiamento coletivo da obra.

Desta vez, Erick “Sama”, o autor das fantasias Guirlanda Rubra e Lâmina Celeste, nos traz uma ficção científica fortemente inspirada em jogos de nave, como Gradius, Starfox, Xevious, Twin Bee, R-Type, Axelay, entre outros SHMUPS. Ainda que a história tenha um grande foco nas espaçonaves, seus pilotos e suas missões, ela também aborda temas como a “coletividade vs indivíduos”, inteligência artificial, entre outros.

Solitude faz parte da excelente coleção Dragão Mecânico, da Editora Draco, da qual falamos em nosso podcast da qual já resenhamos o excelente Pecados Terrestres, de Gerson Lodi-Ribeiro.

O início da leitura foi um pouco confusa, devido à escolha do autor em fragmentar a narrativa, não só em vários pontos de vista, mas também, em idas e vindas na linha temporal. Além disso, algumas coisas que ocorriam na narrativa, pareciam não ter um lastro de coerência clara. Com isso, nas primeiras páginas, tive uma impressão de que a história não teria um bom desenvolvimento, pela falta de coerência. No entanto, conforme o leitor avança na trama, percebe que há um aspecto engenhoso na forma que o autor introduz conceitos que começam a dar sentido e coerência para a trama como um todo. É uma história que se compõe com a sobreposição de diversas camadas, tanto no lado da trama, das referências aos jogos, temas, como a solidão, e presença da música, principalmente, o blues. Também não dá deixar de fora a inspiração em animes como Cowboy Bebop, Macross, entre outros. São elementos que se entrelaçam para composição da atmosfera da história.

A história segue a trajetória (errática) de Axel Vipero, um piloto de caça espacial e líder do esquadrão Raposas Estrelares. Ele e seus companheiros vivem numa recente colônia humana, chamada Eden. A humanidade que se desenvolve ali, já não é a mesma que vivia na Terra, uma notável diferença é a estrutura familiar. Muitos jovens são incubados e nascem por processos artificiais, sendo educados coletivamente em Centros de Criação, por muitos pais e mães. Assim, como Axel, seu melhor amigo, Luciano (Abelha) também não nasceu e cresceu numa família “tradicional”. Ele, Abelha, Gládio, Dário e Meadara são pilotos e os principais personagens da história. Destaque para a inteligência artificial, Coração, que é companheira íntima de Axel em sua jornada.

O conflito principal surge, quando alienígenas biomecânicos tentam invadir a colônia. A primeira tentativa é frustrada e dá oportunidade aos humanos de aprender sobre a tecnologia alienígena e compreender que estão condenados a serem destruídos ou assimilados brevemente. Neste contexto, é criada a Operação Salamandra, uma tentativa desesperada de resistir às forças superiores dos invasores.

Além do conflito de proporções épicas, há também os conflitos advindos da relação entre o elenco principal. Temos um típica trama conflituosa baseada num triângulo amoroso que envolve o protagonista e seu melhor amigo. E a relação do protagonista e do par amoroso com um simpático animal de estimação.

A narrativa é toda composta de cenas episódicas que se alternam no espaço, tempo e pontos de vista, mas que do meio para o final, começam a tomar mais corpo e coerência. Não quero dar spoilers, mas o autor introduz algumas ideias bem interessantes que explicam aspectos envolvendo as mortes e elos mentais entre os personagens.

Abro um parêntese para falar do ponto de vista de uma pessoa que foi muito fã de jogos de nave e jogou muitos deles. A maioria deles, não possuía uma camada de história muito bem desenvolvida, quando muito, sugeriam umas poucas linhas de texto e imagens. O jogador, talvez, pudesse unir os pontos entre o que estava expresso na história e o que se via visualmente nas fases para tirar algumas conclusões. Parece que o autor conseguiu encontrar inspiração, nas lacunas deixadas pelas histórias não contadas de tais jogos, para criar em cima de alguns conceitos “subentendidos”. Um salto dos pixels e sprites que compunham os jogos para a composição de uma história de ficção científica que aglutina muitos elementos já presentes em outras obras do gênero, mas totalmente alinhada ao seu principal tema da inspiração: uma ode aos “jogos de navinha”. Um dos resultados, que me surpreendeu, foi a criação de uma espécie alienígena “vilã” muito assustadora. Figura digna do horror cósmico e mais horrível que os Borg de Star Trek.

É um livro, curto, de poucos personagens, fortemente baseado na intenção de homenagear o construto cultural dos jogos de nave, amarradas por algumas ideias bem interessantes, que fazem a história transcender a simples dimensão de “história de ação espacial/combate de aeronaves”. Uma ficção científica que também traz suas reflexões sobre o impacto das tecnologias da informação e genética na vida humana, do indivíduo e sociedade, “teísmo vs ateimo”, amizade, amor, inveja e solidão.

Para completar, o autor nos deixa uma playlist, que ajuda ainda mais o leitor a mergulhar no universo da história. E ainda, para quem foi jogador desses jogos, é uma leitura muito nostálgica.

Gostou? Acesse o link do livro.

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