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Categoria: Resenhas Page 6 of 38

Aquilo que nós matamos – Diego Guerra

E cá estamos nós com mais um livro do grande autor de fantasia Diego Guerra. Essa noveleta que integra a série “Chamas do Império” se passa numa pequena localidade do império chamada Pedra Alta. O livro é narrado sob múltiplos pontos de vista, mas, em especial, de Seryna, uma garota de 15 anos, que está para realizar um ritual e adquirir a maioridade.

Ela foi criada por seu pai, Yosé, um forasteiro e teve muito pouco contato com a civilização. Sua mãe, Alana, morreu há muitos anos e seu passado carrega algo que irá mudar o destino, não só da garota, mas como de todo o vilarejo.

A mudança de pontos de vista ao longo da narrativa deixa o leitor um pouco sem a referência de protagonista, mas é uma história que gira em torno de seis personagens: Seryna, seu pai e mãe, sua tia, Tiana, irmã de Alana, o primo Luka e o pai dele, Jadel, o prelado, uma espécie de prefeito de Pedra Alta.

Vários desses personagens carregam dentro de si mágoas, culpas e questões não resolvidas de seus passados, e tudo isso vem a eclodir a partir da cerimônia de emancipação de Seryna, na qual ela presta seus votos diante de sacerdotes e da comunidade.

Os personagens são bem construídos e a trama vai criando um suspense progressivo até que as complicações levam a história ao seu desfecho. O leitor irá perceber, desde o primeiro capítulo, a presença do sobrenatural. Não há muitas explicações, mas a trama conduz o leitor para montar o “quebra-cabeças” numa progressão que mistura suspense e horror.

Uma sensação de que as coisas vão terminar da pior forma possível vai se formando, mas o final surpreende e acaba não sendo tão terrível.

Diego Guerra vem com mais esse livro tecendo uma tapeçaria em que vamos conhecendo um pouco mais as partes das “chamas do império”, sendo este o quarto livro neste universo. Já vimos aqui: O Teatro da Ira, A Lenda do Mastim Demônio e O Gigante da Guerra. E queremos ver ainda mais histórias chegando.

Se você curte histórias de fantasia com personagens interessantes, suspense e um toque de sobrenatural, fica aqui a nossa recomendação para descobrir o que acontece com “Aquilo que nós matamos”.

Página do autor: https://diegoguerra.com.br/

Livro na Amazon

Caxinã – Vinícius Lobo

Essa foi mais uma das felizes aquisições do FIQ 2022. Caxinã é uma HQ nacional e independente sobre Kaijus, monstros gigantes inspirados em filmes da cultura pop japonesa, como Godzilla. É a segunda HQ do autor e foi publicada em 2020.

Caxinã é nome dado ao monstro e, na minha percepção, protagonista da história. No posfácio, o autor esclarece que “Caxinã é uma referência a Herpetotheres cachinnans, o nome científico do Acauã, a ave do sertão conhecida pelo seu canto de mau agouro que anuncia a aproximação da morte”. E realmente o Kaiju Caxinã é mesmo o arauto da morte!

Acauã (Portal Jeito Nordestino)

A história se passa no país fictício, Antipétria, semelhante ao Brasil em aspectos visuais e culturais, mas um pouco diferente, aqui e ali… A narrativa já começa com a crise estabelecida, ou seja, o monstro gigante está a solta e causando destruição por onde passa.

Os personagens da trama são principalmente políticos e militares. Podemos ver a trama de um lado, mostrando o comportamento dos personagens frente à crise, seus dilemas morais (ou a falta deles) e de outro, as cenas de ação que mostram as tentativas dos antipetrianos de resistir ao ataque do Caxinã.

A arte é toda feita à mão, em branco e preto, inclusive balões e efeitos sonoros, algo a mais a ser apreciado e valorizado na obra.

O desfecho da história é de algum modo poético e reflexivo trazendo algum pessimismo que parece pairar na zeitgeist brasileira… Se você curte Kaijus, fica minha recomendação! Logo mais, vamos comentar aqui sobre outra obra do autor, Ilhas dos Ratos.

Visite a loja do autor e seu perfil no Fliptru onde você poderá ler algumas HQs no formato digital.

O Estranho Oeste de Kane Blackmoon – Duda Falcão

Sinopse:

Um caçador de recompensas viaja pelo oeste americano em busca de aventuras. Em suas andanças, descobre que o deserto, as cidades dos desbravadores e as tribos indígenas estão repletos de mistérios, de acontecimentos estranhos e de entidades sobrenaturais. Na sua jornada, faz novas amizades e adquire conhecimentos místicos para lutar contra criaturas do mal.

Duda Falcão é velho conhecido aqui do nosso blog, lá para os idos de 2007~2008, divulgamos por aqui uma de suas histórias, Hylana nas Terras de Lhu e mais tarde a série Sagas. É uma grande satisfação falar de uma de suas obras mais recentes, O Estranho Oeste de Kane Blackmoon.

O romance fix-up, reune oito contos que estão arranjados em ordem cronológica e que contam as aventuras de Kane, nas quais vemos misturados elementos clássicos de histórias do gênero western com horror e fantasia.

Kane é um mestiço, meio indígena e meio homem-branco e que se vê sem lugar de aceitação no contexto em que vive. Ele começa sua jornada como um caçador de recompensas, mas logo, inicia seu caminho de envolvimento com o mundo sobrenatural.

Um personagem importante logo no início do romance é Sunset Bison, um indígena que o introduz nas artes místicas de seu povo e que o faz reconhecer que ele próprio possui um espírito guardião. Aqui pra mim, acho que teria soado bem se o autor tivesse optado por traduzir para o português alguns nomes indígenas, teríamos, por exemplo, Bisão do Sol-Poente, Kane Lua-Negra e assim por diante…

Na medida em que avançam os contos, vamos percebendo que o mundo construído pelo autor é mais complexo com novas camadas surgindo e se sobrepondo. Cada vez mais o aspecto “do estranho” vai ganhando espaço nas narrativas, e Kane, sempre enfrentando novos perigos, se vê tendo que combinar suas habilidades de pistoleiro com as novas habilidades místicas que vai aprendendo em seu caminho. Cada conto possui uma trama fechada, mas deixa consequências que vamos vendo somadas até o fim do livro.

O aspecto de horror, muitas vezes com um toque lovecraftiano, vai aparecendo nos contos e em uns dois pontos, me deixou bastante arrepiado. Algumas cenas tem aspecto gráfico bem definido… É o bom o leitor estar preparado para sensações desconfortáveis e de “torcer as entranhas”. O aspecto trágico que vai se formando em torno da história de Kane também é algo que vai levando a história cada vez mais a um território sombrio.

O autor desenvolve muito bem os personagens, situações de conflito e ambientação. As criaturas sobrenaturais que surgem, muitas vezes fogem ao ponto comum, trazendo boas surpresas em um senso geral de estranheza que combinam perfeitamente com o título da obra. Além do mundo físico, vemos uma boa dose do mundo espiritual e até de outras dimensões.

Vale mencionar que a edição e diagramação feitas pela editora Avec são diferenciadas e acrescentam bastante ao clima proposto pelo autor. Deixo aqui sob altas recomendações, especialmente para quem gosta de western e de horror, esse romance fix-up de Duda Falcão!

O Andarilho das Sombras – Eduardo Kasse

O Andarilho das Sombras é o primeiro livro da série Tempos de Sangue escrita por Eduardo Kasse e editada pela Editora Draco.

O livro é muito bem escrito, com personagens fortes e situações intrigantes. Narra a saga do imortal, Harold Stonecross, um homem amaldiçoado, de moral imperfeita e bebedor de sangue.

Não é uma história típica de vampiros e se passa na idade média na Inglaterra e França. O leitor deve ser maduro, pois é um livro com boa dose de violência, sexo e linguagem adulta.

Guarda alguma semelhança com os livros de vampiro de Anne Rice, porém, com alguma dose de humor, sexo e sujeira costurando um fluxo narrativo oscilante entre presente e passado. Ainda que fantástico, há nele uma tintura de ficção histórica.

Eduardo escreve muito bem e a dinâmica da trama é entrelaçar arcos do personagem em seu presente, já amaldiçoado pela imortalidade, e seu passado, desde a infância até sua maturidade. A trama dá uma sensação de falta de rumo, vamos passando por episódios da vida de Harold, alguns desses episódios possuem personagens mais carismáticos e situações mais interessantes e contraste com outros momentos onde se percebe um pouco de “barriga” no livro. O que prende o leitor na história é uma curiosidade para saber como Harold se torna imortal e também, qual será seu destino.

O livro tem alguns personagens memoráveis como irmão de criação de Harold, Edred, e o seu fiel cavalo, Fogo-Negro. Aliás, é um livro com um grande elenco de animais capazes de despertar a simpatia do leitor.

Destaco a habilidade do escritor para estabelecer a ambientação e ao trabalhar bem os detalhes, dar vida a situações e personagens, ainda que muitos deles acabem “descartados” ao longo da trama.

Gostei bastante do desfecho e da inusitada forma de apresentar uma origem para o mito do Vampiro, ainda que essa palavra não apareça em nenhum momento durante o livro.

Está aí um grande romance da literatura fantástica brasileira. Vale conhecer.

 

Dragonero #10 a #12

Está chegando agora? Veja também nossas resenhas das edições anteriores: Especial356 e 78 e 9.

O universo de fantasia criado pelos italianos Luca Enoch e Stefano Vietti é muito vibrante, fugindo da fantasia medieval pura, ao adicionar um certo nível de avanço tecnológico: vemos elevadores, armas de fogo, dirigíveis e até planadores.

Sem se afastar demais das definições clássicas das raças vistas em mundos de fantasia, como orcs, elfos e anões, os autores dão uma tintura distinta aos membros dessas raças que fazem parte da trama.

Nas edições #10 a #12 continuamos a acompanhar as aventuras de Ian e seus amigos: o Orc, Gmor, e a pequena elfa, Sera. Sendo que as edições #10 e #11 compõe um mesmo arco de história.

Episódios #10 (As Fossas dos Farghs) e #11 (A Rainha dos Algentes)

Ian e Gmor se aventuram em Varliendar, a antiga terra dos dragões e enfrentam um imenso exército de Algentes. No norte do Valo, há grandes lagartos, os Sáurios, usados pelos homens como montarias. Essas montarias terão papel importante na aventura de Ian. Além de enfrentar imensos Vermes, temos o retorno de uma antiga personagem, antes aliada de Ian, e que aparece agora como aliada aos Algentes.

Além disso, na edição 11 temos, pela primeira vez, uma narrativa paralela contando um pouco sobre a monja que atua como aliada de Ian e Gmor no conflito contra os Algentes e sua Rainha. Este arco todo é ótimo, com grande intensidade de ação e carga emocional elevada. Porfim, deixa possibilidades em aberto para novas histórias.

A arte de Gianluigi Gregorini é fabulosa e dá um brilho todo especial a essas duas edições!

Dragonero #12 – Ameaça das Profundezas

Nesta aventura, vemos novamente reunidos Ian, Gmor e Sera. Uma coisa que gosto de ver nessa série, é como são retratados vários momentos mais descontraídos da vida dos personagens. Neste caso, antes da parte principal da trama entrar, vemos um pouco da convivência dos persongens da casa de Ian e como crianças da cidade próxima vão ali para “brincar” com eles.

Depois da “brincadeira”, um forte ruído vindo da cidade, chama a atenção dos aventureiros. Logo descobrem vários buracos fundos surgindo e descem para investigar. Neste contexto ficam conhecendo um novo personagem bem interessante, um mapeador.

Essa história adiciona toda uma nova camada política e econômica ao mundo de Dragonero, pois introduz os anões e o Sindicato dos Anões Mineiros.

Essa é uma aventura perigosa e divertida que também traz o tema dos Ubiquos, uma antiga raça lendária que deixou muitas ruínas por todo o mundo, inclusive as famosas pedras sonoras.

Juntando-se aos anões, Ian e seus amigos terão que enfrentar uma terrível “Ameaça das Profundezas”. E mais uma vez, o final, deixa em aberto novas possibilidades para histórias futuras.

Os desenhos desta edição são de Cristiano Cucina, não são tão bons quanto os das duas edições anteriores, mas ainda assim, é um artista de traço bastante competente capaz de trazer à vida mais um episódio da narrativa desta empolgante saga.

Sinceramente, a cada edição, Dragonero ganha em riqueza de seu cenário e da profundidade de seus personagens. Há muitas séries que perdem seu “brilho” com o tempo, mas não vem sendo o caso de Dragonero até este ponto! Recomendadíssimo!

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