Para começo de conversa, é um livro bom, mas indigesto. Não acredito que seja para qualquer um. Vamos começar por situá-lo em seu gênero, fantasia grimdark, caracterizada pela perda, moralidade cinzenta e violência.

O Gigante da Guerra narra a história de duas crianças, dois irmãos, Ward e Lenna, que precisam cuidar da fazenda de seu pai e, em alguma medida, da própria vila à qual esta pertence, durante um duro período de privações causado por uma guerra. A história se situa no mesmo universo do livros O Teatro da Ira e A Lenda do Mastim Demônio, mas não tem uma ligação direta com essas histórias.

Não é um livro de fantasia alegre, de aventuras, ou com final feliz. Mas sim, uma história trágica, com personagens muito interessantes que se transformam ao longo da narrativa…

As coisas vão mal para os irmãos… Se vendo incapazes de cultivar sua terra vem perspectiva da fome e ruína no futuro… Um gigante escravo, Druhu, escapa e vai se esconder na fazenda deles. Na mesma medida em que o surgimento de Druhu sinaliza uma ponta de esperança é também o anúncio de tragédias.

Certamente o Druhu foi meu personagem favorito. Um ser inocente, quase sempre dócil, representando um forte papel de oprimido… A gentileza dele e de Lenna se encontram, forjando uma amizade que o mundo deles não pode compreender, tampouco tolerar.

O livro trata de temas como a escravidão, guerra e algo de ruim que emerge das natureza humana em situações difíceis. Algo de bom também. Uma leitura difícil e que provoca reações emocionais no leitor.

Acho que o que mais fica deste livro, são os personagens e seus arcos, não apenas os centrais, Ward, Lenna e Druhu, mas todo o conjunto de coadjuvantes e antagonistas, como a magistrada, a Mãe Loba, a sacerdotiza da aldeia, o prelado e o velho e netos da fazenda vizinha. A construção de mundo também é um ponto forte, dando ao leitor um vislumbre um pouco maior do universo “chamas do império”.

Antes que reclamem comigo, o livro não é perfeito. Tem algumas questões de ritmo, no início da história, principalmente. Em alguns momentos o autor se permite vagar e explorar alguns temas e ideias secundários ao andamento da trama principal, mas nada que dure mais que uma ou duas páginas.

Enfim, se você gosta de fantasia, mas também está preparado para encarar uma história fora daquele esquema heroico de salvação do mundo e finais felizes, esse é um livro que poderá agradar bastante.

Leia a entrevista com Diego Guerra.