Faz pouco tempo que escrevemos sobre Caxinã, de Vinícius Lobo. Hora de conhecermos Ilha dos Ratos, a terceira HQ do autor. Nessa obra, Lobo mostra um trabalho mais maduro, tanto no roteiro, arte e narrativa visual que resultou numa obra-prima.

A chegada na ilha

Ilha dos Ratos é uma mistura de fábula, crítica social e história de investigação no estilo Noir. Lobo conta a história épica dos camundongos e ratazanas acompanham os humanos numa embarcação que os leva a um novo território, a farta e paradisíaca Ilha dos Ratos. Ali, os ratos constroem uma cidade próspera que atinge seu ápice envolta em fartura e felicidade. Porém, logo o crescimento desordenado e veloz da população leva a uma crise de profunda escassez de alimentos, evidenciando um problema na organização social dos roedores, a divisão de classes.

Período de fartura

Em meio a essa crise, roedores começar a buscar alimentos em outros lugares da ilha, tomada pelos humanos, enquanto uma série de desaparecimentos misteriosos começa a acontecer. É aí que entram os dois detetives, Hopper e Byers (homenagem a Stranger Things?).

A dupla de detetives foi bem construída e começa a investigar o desaparecimento de Laurindo. No início, a investigação aponta para o problema das excursões para procurar comida, mas acaba se esbarrando numa trama mais pesada e que quando revelada irá exigir grande sacrifício da dupla de detetives. Vale dizer que a história conta bom boas sequências de ação, tiroteio e pancadaria.

Além da trama e personagens, muito bem construídos, vemos uma crítica social na obra. Segundo o próprio autor, usar ratos no lugar de humanos, permitiu que abordasse alguns assuntos pesados com certo toque de leveza, e também explorar algumas metáforas. A obra aborda com maior ou menor profundidade temas como a lealdade, desigualdade, egoismo, religião, racismo, entre outros temas.

Na parte da arte da HQ, vê se os contrastes do preto e branco muito bem utilizados, excelente narrativa visual e cenários muito bem construídos, com destaque para a parte arquitetônica.

Fica aqui a recomendação para a leitura dessa excelente HQ.

Sobre o autor

Vinícius Lobo é autor de quadrinhos desde 2019, quando publicou “Um Apelo à Vadiagem”, história baseada em sua decepção com sua primeira relação profissional com a Arquitetura e Urbanismo. Continuou desenhando durante a pandemia, publicando outra obra, “Caxinã”, que refletia sobre a relação fetichista do Brasil com o militarismo durante a crise sanitária. Em 2021, terminou a “Ilha dos Ratos”, financiada coletivamente. Lobo se dispõe a pensar o mundo cotidiano de forma crítica, mesmo que não expresse diretamente. Suas histórias são construídas a partir de sua relação coma a realidade, quase sempre inconformado, mas sempre esperançoso na mudança.

Auto retrato do Lobo encontrado na lombada da HQ

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