Além de escrever, trabalho com planejamento no meu emprego regular. Estou muito ciente das limitações do planejamento. O que aprendi é que planejamento é uma ferramenta para melhorar nossas chances de alcançar objetivos e para funcionar melhor, deve ser flexível. Me lembra aquela famosa frase de John Lennon: “A vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.

Então nosso plano agora é tirar um tempo para refletir sobre o planejamento de histórias com um certo tamanho: romances. Estes tem quarenta mil palavras ou mais, mas o planejamento é aplicável a histórias menores, talvez, exceto muito pequenas como ficções relâmpago, afinal, é mais fácil e rápido escrever uma destas do que investir tempo em planejamento.

A abordagem “clássica” seria despejar sobre vocês as técnicas de estruturação de histórias, mas não vamos fazer isso… ainda. No meu trabalho, muitas vezes, vejo as pessoas querendo colocar a “mão na massa”, sem antes refletir e sequer traçar objetivos, muitas vezes levando à frustração e resultados limitados. Então me ocorreu que é melhor traçar seu objetivo primeiro, e depois, escolher a metodologia ou ferramentas que melhor se aplicam a este objetivo.

Então, a primeira decisão a se tomar tem a ver com aspectos gerais da história. O fato é que para bem, ou para o mal, a literatura está dividida em gêneros. São convenções que facilitam para o leitor encontrar novas histórias de que possivelmente vai gostar. Temos, romance, aventura, horror, fantasia, ficção científica, romance histórico, policial/mistério, etc.

Sim, determinados gêneros literários exigem ou favorecem métodos de planejamento específicos, justamente devido a suas convenções estruturais, expectativas do público e elementos técnicos. Vamos usar o exemplo do romance policial/mistério, mas a lógica se aplica também a gêneros como ficção científica, romance histórico, thrillers, etc.


Por que o gênero policial/mistério exige um planejamento específico?

O mistério e a investigação são gêneros altamente estruturados, onde:

  • Pistas precisam ser plantadas de forma sutil.
  • Reviravoltas devem ser críveis e surpreendentes.
  • O final precisa fazer sentido retrospectivamente.
  • O leitor é convidado a resolver o mistério junto com o protagonista.

Isso exige planejamento cuidadoso, especialmente no controle da informação: o que o leitor sabe, o que o detetive sabe e o que o criminoso sabe.


Método recomendado: Planejamento Reverso (Reverse Engineering)

Esse método é ideal para histórias de mistério, crimes, assassinatos ou conspirações.

Etapas:

  1. Comece pelo final
    • Quem cometeu o crime?
    • Como e por quê?
    • Como o detetive descobre isso?
  2. Construa o crime e o encobrimento
    • Detalhe o plano do criminoso.
    • Considere o álibi, pistas falsas e possíveis testemunhas.
  3. Espalhe as pistas (foreshadowing)
    • Insira pistas verdadeiras disfarçadas de irrelevantes.
    • Adicione falsas pistas (red herrings) para confundir.
  4. Planeje a investigação passo a passo
    • Cada capítulo revela algo, aumenta a tensão ou complica o mistério.
    • Pense em obstáculos, entrevistas, perseguições, revelações.
  5. Organize a linha do tempo dos eventos (antes e depois do crime)
    • Uma cronologia clara é essencial para não cometer inconsistências.

Ferramenta útil para mistério/policial:

Quadro de Investigação (Estilo Detetive)

  • Use um mural ou software para mapear:
    • Suspeitos
    • Motivos
    • Ligações entre eles
    • Provas e pistas
  • Ajuda o escritor a visualizar a complexidade do caso.

Visto isso, podemos ir para as próximas partes. Vamos explorar diferença entre história e trama, e dicas e métodos específicos para os gêneros com os quais tenho mais contato e experiência, Fantasia e Ficção Científica. Até lá!