Uma São Paulo fantástica é apresentada ao leitor em Porém Bruxa. Ísis é uma bruxa monitora, responsável por resolver problemas ligados ao sobrenatural em sua cidade.
Com sequestros, assassinatos e mistérios em seu caminho, Ísis conta com a ajuda de um grupo de amigos diverso para solucionar um grande mistério e enfrentar uma terrível ameaça sobrenatural.
Neste universo, um mundo mágico, bem brasileiro, se constrói misturando o cotidiano de nossa maior metrópole com diversos tipos de magia incluindo a presença de pajés, orixás, portais dimensionais, sociedades secretas, entre outros.
Além de tratar de um mistério, a trama percorre alguns temas atuais, como a diversidade, preconceitos, sexismo, intolerância religiosa, relações abusivas, as más influências que líderes religiosos inescrupulosos podem ter sobre seus fiéis etc.
A autora é habilidosa e combina humor, uma boa construção de personagens, os dramas da protagonista, com uma trama que mantém acessa a curiosidade do leitor.
Para quem curte fantasia urbana, é uma excelente oportunidade de ler uma obra do gênero que consegue se sustentar muito bem no contexto tupiniquim.
Mais uma HQ da Quad Comics! Drop Dead é uma HQ com história fechada de 82 páginas, formato A4, que foi publicada em 2016. Conta a história de William, um adolescente que adora andar de skate e escutar música. Ele mora em São Paulo e, após a morte de seu pai, começa enxergar espíritos.
A renda da família vinha do trabalho do pai, deixando a mãe preocupada, tanto com o sustento do lar, como com a saúde mental do filho. William vai em vários psicólogos, mas não para de ver os espíritos, até que, por sugestão de sua mãe, vai até um centro espírita.
Mesmo relutante, ele descobre que seu dom pode ser útil aos desencarnados… A história evolui o levando a entender melhor as circunstâncias da morte de seu pai.
A HQ é toda colorida e arte expressiva e com pinceladas bem soltas é um ponto de destaque. A narrativa visual é muito bem construída com boas cenas de ação.
Pecados Terrestres é um livro de ficção científica que faz parte da coleção Dragão Mecânico da Editora Draco. É ambientado num futuro em que a civilização humana está prestes a entrar em colapso. Mas diferente de muitas outras histórias de “fim do mundo”, é narrada do ponto de vista de um garoto, o Ricky “Cabeção”.
A história se passa cerca cinquenta anos no futuro a partir de 2021. A geografia e geopolítica do mundo estão profundamente alteradas. Por um lado, as regiões baixas de várias cidades, como o Rio de Janeiro, foram inundadas pelo aumento do nível do mar. De outro, uma guerra de entre blocos políticos ocorreu na Amazônia, devastando o que restou da floresta em poucos anos e agravando a crise climática.
O negaciosismo da ciência faz com que a elite intelectual do planeta migre progressivamente para habitats nas órbitas baixas da terra e cidades na Lua. A civilização dos espaciais evolui tecnologicamente num ritmo veloz, se colocando à parte da humanidade terrestre, ainda superpopulosa e envolta em constantes conflitos.
Ricky é um privilegiado, filho de empresários riquíssimos, vive numa mansão fortificada nas proximidades da Floresta da Tijuca. Seus pais, fazem parte de uma geração otimista que ainda aposta na recuperação da ecologia do planeta. Ele e seus irmãos, foram submetidos a um tratamento, quando ainda bebês, que estimula o desenvolvimento intelectual, e nesse sentido, são muito inteligentes.
A vida de Ricky e seus amigos começa a mudar quando a escola em que estudam fecha e em substituição, passam a ter aulas com Artemisia, uma consciência artificial criada pela civilização lunar. Na medida em que ele e seus amigos vão se adaptando à nova realidade, um novo surto de uma supergripe causada por uma variante de coronavírus começa a se espalhar pelo mundo.
No início, da história, vamos sendo apresentados a elementos desse futuro, como, por exemplo, a tecnologia holográfica e de simulação de ambientes virtuais já bem difundida (como o holodeck de Jornadas nas Estrelas) e a presença constante de agentes virtuais na vida das pessoas. De início, o andamento da história e apresentação dos personagens e ambientação é um pouco lenta, mas logo, conforme a crise se agrava, vai tomando um ritmo que faz o leitor não querer mais parar de ler.
A atmosfera da crise planetária e como isso se desenrola é bastante sombria, porém, fica mais leve vista pelo olhar das crianças e adolescentes que compõem o núcleo narrativo.
O final guarda lá suas surpresas e traz algum elemento otimista para essa humanidade do futuro. Apesar de ser um livro bem curto, Gerson Lodi-Ribeiro, sendo um autor muito experiente, encontra espaço para desenvolver diversos temas, tais como: negacionismo da ciência, crise climática, desigualdade social, transhumanismo, direitos dos robôs/inteligências artificiais, entre outros.
Fica aqui a dica dessa excelente ficção científica, com um toque de aventura adolescente, que serve de alerta para nós no sentido do que estamos fazendo com nosso planeta.
Este mangá brazuca, que foi lançado por mais um financiamento coletivo bem-sucedido da Editora Draco, me surpreendeu pela qualidade dos desenhos e as mais de 250 páginas de história.
Conta a história da androide Joy Comet e seu parceiro Quindim que são parte do Esquadrão Starheim, responsável pela exploração de exoplanetas. No futuro, a humanidade exauriu os recursos da Terra provocando superaquecimento e morte de toda vida. Sete colônias na forma de enormes estacões espaciais partiram para o espaço em busca de um novo planeta para colonizar.
Dentre elas, a colônia Elysium nunca encontrou um lugar compatível e segue vagando perdida. Um novo governo autoritário toma posse na colônia e rebaixa Joy e Quindim a patrulheiros, porém, eles acabam descobrindo um segredo ligado aos Espers (formas de vidas com superpoderes que habitam o espaço) que os força a confrontar suas diretrizes programáticas e escolher que lado tomar para promover o bem-estar da maioria da população da colônia.
Joy Comet (2022) é uma história com relativamente pouco texto e com muitas páginas de ação frenética, nesse sentido, pode ser lida rapidamente. Dá grande satisfação visual ao leitor, mas no tocante ao entendimento da psiquê e motivações da protagonista, deixa algumas perguntas em aberto…
João Eddie estreia com seus quadrinhos na internet em 2010. Seus trabalhos foram publicados em portais de mangás nacionais até receber seu primeiro prêmio no segundo Brazil Mangá Awards. Publicou no primeiro volume da coletânea “Dracomics Shonen” e no “Tools Challenge – Sayonara Bye Bye”, ambas da Editora Draco. Foi premiado seis vezes no Silent Manga Audition, concurso internacional da editora japonesa Coamix. Sendo duas vezes na categoria mais alta. Na última dessas vitórias, levou também o prêmio Unesco Award e teve seu quadrinho “Invisible” publicado em um catálogo distribuído em escolas da Tailândia. Mora atualmente em Camaquã, uma cidade no interior do Rio Grande do Sul e não pensa em parar com os quadrinhos tão cedo.
Escrito por Robert Kirkman (de The Walking Dead), o segundo volume de Oblivion Songleva o leitor de volta para uma dimensão paralela à cheia de estranhas criaturas. É uma história de ficção científica com muita ação e mistérios. Tem uma narrativa visual poderosa e mantém facilmente o interesse do leitor pela história.
O volume 2 reúne os fascículos 7 a 12. Neles voltamos a acompanhar a história do cientista Nathan Cole para corrigir os erros que ele e seus colegas cientistas causaram com os experimentos que realizaram no passado. Um pouco mais sobre o surgimento da dimensão “Oblivion” é revelado e Nathan segue em sua busca pessoal para encontrar seu irmão.
Conforme a trama avança, vemos o que ocorreu com as pessoas na terra e em Oblivion. Viver no contexto da colisão desses dois mundos, traz profundas transformações a seus habitantes. E quando Nathan finalmente encontra seu irmão, descobre que talvez ele não queira ser “salvo” como ele imaginava. As pessoas que viveram por tantos anos em Oblivion descobriram um novo jeito de viver, mais primitivo, mais exigente e real, dando mais sentido às suas existências do que o contexto da terra com corrupção, desemprego, etc.
A arte de Lorenzo De Felici é excelente, com traços sintéticos, usa bem as composições para formar a narrativa visual. Sua forma de representar a tecnologia, personagens e cenários torna a HQ muito atraente. As cores na segunda edição conseguiram consolidar o contraste de atmosfera dos dois mundos.
Oblivion Song, segue como uma HQ de ficção científica de narrativa competente, com mistérios e conflitos que vão se revelando gradualmente… Termina mostrando que em Oblivion há mais do que apenas monstros descerebrados… Podemos esperar novas evoluções nessa trama. Vale a pena acompanhar.