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Categoria: Resenhas Page 22 of 38

Sombra e Ossos – Leigh Bardugo

E vamos lá para mais uma trilogia de fantasia. O que me fisgou para ler este livro foi a arte da capa, diagramação do livro, arte do mapa e também a inspiração na cultura russa. Seguiremos Alina Starkov, uma orfã que vive num país assolado por uma maldição que o dividiu em dois: a dobra das sombras. Ravka é um país ameaçado por guerras contra seus vizinhos, mas que conta com estilosos magos treinados na Pequena Ciência e que são chamados de Grishas. O conceito em torno dos magos é interessante, cada ordem com suas capacidades e roupas próprias.

Já no início da trama Alina e seu amigo de infância Maly, penetram a terrível região, também conhecida como Não Mar,  amaldiçoada por trevas duradouras e habitada por monstros chamados Volcras. Devo confessar que gostei bastante do primeiro terço do livro, mas fiquei muito decepcionado com o desenvolvimento da trama e até a conclusão do primeiro volume. Um dos fatores negativos é a narração em primeira pessoa, que muitas vezes atrapalha uma boa estória dependendo da forma que é usada. Para mim, neste caso, ao invés de aproximar da protagonista, me afastou.

Série A Primeira Lei – O Poder da Espada, Antes da Forca e O Duelo dos Reis – Joe Abercrombie

Li essa série num espaço tão curto de tempo que deixar escapar o tempo de escrever resenhas sobre cada livro. Começa em O Poder da Espada, seguindo para Antes da Forca e conclui em O Duelo dos Reis. Vixe! Pirei com esse autor e essa série. Seja bem-vindo a mais um mundo de fantasia medieval, mas neste, tudo é mais sujo e brutal do que vemos em O Senhor dos Anéis, Crônicas de Nárnia, entre outros.

Tem uma narrativa veloz, clara, violenta e espirituosa. Um dos pontos fortes da série está na habilidade do autor de trabalhar seus protagonistas de modo a você se importar com o que vai acontecer com eles. Não apenas isso, a caracterização dos personagens (pelo menos alguns) é progressiva, como se estivéssemos descascando uma cebola à cada nova fase da estória, ou sobre o ponto de vista que uns personagens tem sobre os outros.

Outro aspecto interessante é a quebra de expectativa com determinados esteriótipos de personagens, por exemplo, há um mago poderoso no livro (o primeiro de sua ordem), seria comparável a Saruman, ou Gandalf, em O Senhor dos Anéis. Mas na prática, se mostra um personagem bem distante do esteriótipo de magos em estórias de fantasia, ainda poderíamos citar Merlin, Sparrowhawk (Earthsea), entre outros.

Temos a predominância de anti-heróis, alguns bons, mas brutais, outros maus, mas do tipo que você acaba gostando.

Nesta série, você vai conhecer alguns personagens memoráveis:

  • Logen Nove-Dedos, ou Nove Sangrento. Um bárbaro nórdico que ganhou uma fama de ser um guerreiro violento e implacável, mas que de algum modo tenta escapar disto durante a trama.
  • O Inquisidor Glokta, um ex-militar aleijado e amargurado que passou por torturas durante uma guerra. É cínico, inteligente e espirituoso, cruel, mas tem muitas surpresas para mostrar. (Foi um de meus personagens fictícios favoritos de todos os tempos)
  • Bayaz, o Primeiro dos Magos, um mago de tempos antigos que não se encaixa no esteriótipo esperado de mago sábio, mas sim no papel de alguém com forte inclinação para a política e manipulação.
  • Jezal dan Luthar, um jovem capitão do exército, bonito, egocêntrico e hábil espadachim. Seria um bom candidato a heróis nessa série, mas como comentamos, eles são raros por aqui. Até mesmo o mais simpático dos personagens pode vir a cometer alguma vilania numa circunstância de desespero. E não faltam situações desesperadoras para nenhum deles.

É claro que o elenco se estende para uma dúzia de personagens interessantes como Ardee West, seu irmão, Major West, os práticos Frost e Serverard, o Arquileitor Sult, Ferro Maljinn, um grupo de nórdicos bem notáveis (que não cito para evitar spoilers), entre outros.

Falando um pouco do aspecto de fantasia do livro, temos a magia, como algo raro e pouco demonstrado. Sua origem, dos tempos antigos, possui relação com o conceito que dá nome à série: A Primeira Lei. Fala-se um pouco na primeira e segundas leis, sendo elas ambas relacionadas com cuidados que feiticeiros devem tomar para não se envolver com o que poderíamos chamar de magia das trevas, ou do submundo. Em relação a criaturas fantásticas, as únicas que vamos ver por aqui são os Shankas, uma espécie humanoide peluda e disforme que faz, mais ou menos, o papel de Orcs em outras séries de fantasia.

Um dos temas discutidos na obra é a diferença entre o bem e o mal e busca pelo poder. A moralidade dos personagens é questionada e o leitor embarca na possibilidade de encarar isso pela perspectiva deles. E uma das hipóteses que vemos é que bem ou mal podem, afinal, depender apenas do lado em que você está num dado conflito. Em suma, vemos muitas lutas, guerras e conflitos, caminhando lado-a-lado com politica e conspirações.

A ação e lutas nos livros é bastante visceral. Não tem muita coreografia e coisas bonitas, a coisa toda é um bocado confusa (até mesmo caótica), perigosa e sangrenta. Uma das coisas interessantes é que mesmo com personagens tomando ações cruéis, você se vê ainda gostando deles.

Um ponto a se questionar na série é a capacidade dela de resolver todos os conflitos e temas apresentados. É um fato que tudo termina e nem todas as respostas são dadas, nem todos os problemas são solucionados, como vemos tipicamente em muitos outros livros/autores. Acho que vale um questionamento. Um livro tem que responder a todas as perguntas e resolver todos os problemas em seu final? Bem talvez, não. Gostei muito da série a despeito desta característica, mas não posso afirmar que todos vão ter essa mesma leitura. É um livro mais do tipo, apreciar a jornada, do que chegar ao objetivo final. Ainda sobre o aspecto da trama, há alguns pontos previsíveis, mas em compensação, muitas reviravoltas um tanto imprevisíveis, o que adiciona um pouco mais de tempero no conjunto da obra.
Somando tudo isso, se você está um pouco cansado(a) de estórias de fantasia com finais felizes, e belos heróis e heroínas, “lordes do mau” que são vencidos pelos heróis, essa série pode vir a agradar bastante, visto que também consegue escapar de muitos esteriótipos que vemos nas estórias do gênero.

Para comprar:

Para quem já leu e gostou, pode descobrir mais sobre o autor em seu site: http://www.joeabercrombie.com/

Existem mais três livros que se passam no mesmo mundo desta série que ainda não foram lançados no Brasil:

  1. Best Served Cold (2009)
  2. The Heroes (2011)
  3. Red Country (2012)

O Vitral Encantado – Diana Wynne Jones

Resolvi começar a escrever esta resenha mesmo antes de concluir a leitura deste livro, pois é daquele tipo de livro que começamos a sentir saudades, mesmo antes de terminar de ler. Neste livro, somos transportados para Melstone, uma pitoresca cidadezinha de interior na Inglaterra. E como é comum nas obras desta incrível escritora, temos personagens interessantes, mistério e é claro, magia, muita magia. Não é por que a Sra. Diana Jones fala de magia, que seus livros são mágicos, mas por que ela foi uma pessoa capaz de observar o mundo, pessoas, personalidades, seus desejos, virtudes e vícios, mas também, tudo aquilo que está ao redor do que é ser humano, um pão quentinho saindo do forno, aquele prato de legumes que não gostamos tanto, mas que acabamos comendo em alguma circunstância, uma grama verdinha e quente para se deitar num dia de verão, o olhar amigo de um cão, o medo que sentimos ao ver entranhas sombras na noite, o poder de um sorriso, tudo isso, faz com que cada livro que ela escreva seja mágico. Ela não foi uma escritora comum, mas sim uma encantadora de palavras. Outro aspecto é que ela deixa a barreira entre livros para crianças e para adultos difícil de traçar.

Agora que já terminei de ler, vamos ao livro.

Neste livro temos dois protagonistas, o professor Andrew Hope, um  adulto na casa dos trinta anos e Aidan, um garoto de doze anos. O professor herda uma propriedade numa pacata cidadezinha de interior, onde todos conhecem todos, mas não é uma propriedade comum. Ela foi a casa de seu avô, um feiticeiro que acabou de morrer, e há assuntos de magia pendentes com os quais Andrew tem que lidar, apesar de não saber muito sobre isso. Outra coisa boa, e ruim ao mesmo tempo, que Andrew herda junto com a propriedade são os empregados, uma dupla com bastante personalidade. Do outro lado está Aidan, o garoto perdeu a avó, que era amiga do avô de Andrew, e vê-se perseguido por seres estranhos. A saída para seus problemas estaria em encontrar o avô de Andrew, mas isto já não é mais possível.

O professor Andrew só queria um pouco de sossego para conseguir dedicar-se a seu projeto dos sonhos, escrever um livro, mas a chegada de Aindan e alguns problemas com o velho vizinho de seu avô, o Sr. O. Brown, não vão lhe dar paz.

Há mistérios a serem desvendados, um trama que evolui, na medida em que Andrew acolhe a causa de Aidan e consegue ajuda com algumas pessoas da cidade, como a sobrinha de seu jardineiro e o pai dela.

É um livro no qual questões de magia e outras mundanas se misturam dando uma sensação de sustentação para os aspectos fantásticos. Você sente a magia e seres mágicos como gigantes e “lobisomens” são reais. Sem querer me aprofundar em detalhes da trama que poderia gerar spoilers, é preciso registrar que é uma obra encantadora, do mesmo nível dos livros da série O Castelo Animado (veja um comentário sobre o terceiro livro da série, A Casa dos Muitos Caminhos).

Adorei esse livro, de verdade. Muitíssimo recomendado.

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Lugar Nenhum – Neil Gaiman

Capa: Lugar NenhumNeil Gaiman é um grande escritor e que domina o gênero fantasia. Como distorcer realidades e usar a imaginação para criar mundos fantásticos. Suas descrições de personagens, situações e acontecimentos, muitas vezes, recorrem ao não convencional trazendo uma experiência de leitura prazerosa.

Lugar Nenhum é um livro de fantasia urbana que se passa em Londres. A Londres de Cima, é o mundo normal que conhecemos, a Londer de Baixo, é um ambiente semi-mágico habitado por pessoas estranhas, seres fantásticos e que vamos explorar junto com o protagonista, Richard Mayhew.

Uma curiosidade: foi produzida, em 1996, uma série para TV da BBC na qual o livro foi baseado. Tive a chance de assistir 2 episódios. Eu não aconselho ver. A produção é razoável, mas daria tudo para obter de volta todas as imagens imaginei lendo, já que agora, parte delas foi roubada pelo que vi da série de TV. A série, em termos de efeitos, etc, já ficou um pouco datada. Contudo, a produção um longa metragem com um orçamento grande, nos dias atuais, poderia compensar.

Richard, um típico cara normal, que tem uma bela e mandona namorada com que pretende se casar, se esbarra com uma garota caída na calçada e sangrando. Por algum motivo ele a nota e resolve ajudá-la. Digo, por algum motivo, pois como vamos descobrir durante a trama, é improvável que habitantes da Londres de Cima consigam fixar atenção em qualquer habitante da Londres de Baixo. Vamos então, saindo da realidade para um contexto onde coisas estranhas e até absurdas começam a acontecer, como por exemplo, a garota salva por Richard, chamada Door, ser alguém capaz de conversar com animais.

A narrativa de Gaiman é bem humorada e perspicaz e isso o funciona como um bom lubrificante para a trama. Somos introduzidos aos demais personagens, pouco a pouco, entre estes, a dupla de vilões, Sr. Vandemar e o falastrão, Sr. Croup, ambos cruéis e sádicos que estão no encalço de Door. Eles trabalham para alguém misterioso, alguém que mandou matar toda a família da Door, e não sabemos o porquê.

A jornada de Richard não é nada fácil, pois a princípio,ele não tem nenhuma aptidão especial para sobreviver nos túneis e câmaras da Londres subterrânea. É um cara de quem a gente chega a sentir pena, de tão tonto que é, mas que vamos simpatizando, na medida em que se mostra sempre bem humorado e disposto a ajudar.

Acho que alguns poderão considerar um ponto fraco deste livro o fato de Richard, até uma boa extensão da estória, ser alguém sempre sendo levado pelas circunstâncias, e não, como deveria um protagonista típico, tomar as rédeas e resolver os problemas por si só.

Penso que o ponto forte, além do próprio talento do autor para descrever cada situação, delinear o enredo e construir cada personagem, é o fator de descoberta de um mundo sobrenatural desconhecido para o leitor em conjunto com Richard. A ambientação da Londres de Baixo, seus habitantes, hábitos culturais e esquisitices é realmente ótima.

O livro é como uma passeio louco em que pegamos uma boa carona com Richard. Acredito de muitos de nós não faríamos algo diferente se submetidos a situações tão estranhas e inesperadas. No fim é uma jornada de aprendizado, crescimento e mudança. Na perspectiva da uma evolução de Richard o ritmo é devagar, com quase tudo, ficando para porção final da estória.

É uma jornada com algumas boas surpresas, que vale a pena percorrer e poderá agradar os amantes do gênero fantástico.

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Shiroma – Matadora Ciborgue – Roberto de Sousa Causo

shiroma capaFicção científica não é o gênero que tenho mais lido nesses últimos anos, mas certamente um gênero pelo qual tenho muito gosto e que foi porta de entrada para minha vida de leitor. Li o suficiente de romances de autores estrangeiros de FC para dizer que Shiroma, Matadora Ciborgue, é um bom livro e que poderá agradar muito aos fãs de ficção científica. Vale dizer que, talvez assim com uma grande massa de leitores, conheço muito pouco da FC nacional.

Meu interesse pelo livro veio do fato de já acompanhar outras obras do autor, tais como a Saga de Tajarê e o romance A Corrida do Rinoceronte. Como de costume, tentarei falar sobre a obra evitando spoilers.

Protagonizado por uma anti-heroína, letal assassina trans-humana, no caso, uma ciborgue, o livro é organizado numa sucessão de contos cronologicamente relacionados e que acabam dando ao conjunto da obra um aspecto de romance, mas com narrativa episódica. Entende-se que o autor, quando criou a obra, o fez por partes e ao longo do tempo, um conto de cada vez, até que a soma deles veio a configurar uma única publicação. Este fato leva à presença de alguns trechos com recapitulações, dentro de cada conto, mas que não chegam a incomodar.

A ambientação é bastante interessante. Os contos se passam no século XXV, num futuro em que a raça humana está em expansão, colonizando mundos em zonas relativamente próximas à Terra. Neste cenário, há forte influência de corporações na política. Há registro de outras civilizações e raças inteligentes, mas nesses contos, isso tem pouca relevância. Exceto por um dos contos, em que a assassina interage com uma interessante dupla de gneifohros, alienígenas inteligentes que lembram cães. Este livro ocorre no mesmo universo ficcional (galAxis) do romance Glória Sombria e de outros tantos contos e noveletas. Para mais, veja o site: http://galaxis.aquart.com.br/

bela_nunesO livro começa com um conto de origem, protagonizado pela mãe de Shiroma, Mara Nunes, também uma ciborgue, mas de um modelo menos avançado. E daí para frente, seguimos a trajetória da filha, Bella Nunes. O tema central dos contos são as missões de Shiroma como assassina e o impacto disto em sua psique, de algum modo frágil, e sua própria forma de lidar com sua situação: a de ser uma espécie de prisioneira nas mãos de uma dupla de criminosos, Tera e Tiago, que são personagens recorrentes na trama. Em meio à ação, intrigas e perigos mortais, a protagonista tenta traçar seu próprio destino e se recuperar do trauma de ter sido tirada de sua mãe e de sua terra natal, além de perder a própria identidade e seu nome. Um dos aspectos instigantes da obra são os dilemas morais enfrentados por Shiroma.

Shiroma é um tipo de ciborgue de tecnologia mais avançada e ainda desconhecida para as pessoas de sua época, que mistura avanços nanotecnológicos e genéticos. Treinada desde criança para se tornar uma assassina implacável, há algo de humano que ainda ressoa em seu interior e que a impede de simplesmente agir sempre do modo que seus captores desejariam.

Os contos possuem tonalidades diferentes, mas com um fio condutor em comum. Exceto um deles, no qual a protagonista não possui uma participação direta, sendo este tratado do ponto de vista de outros personagens, enquanto as ações de sua atuação são investigadas. E isso permite ao leitor um vislumbre diferente de outros aspectos constantes desta ambientação.
Gostei o bastante para decidir que uma de minhas próximas leituras será o romance Glória Sombria, protagonizado por pelo herói Jonas Peregrino, que é citado em um dos contos desta obra.

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