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Categoria: Resenhas Page 2 of 38

A Sociedade de Preservação dos Kaiju – John Scalzi

John Scalzi é um autor competente. O melhor livro que já li dele é Guerra do Velho. Mesmo não sendo um livro tão bom quanto, A Sociedade de Preservação dos Kaiju entrega uma história inusitada e divertida.

Jamie é um profissional de marketing que está prestes a passar por uma turbulência profissional. Tudo começa quando ele perde seu emprego numa empresa de tecnologia no início da pandemia do COVID-19. É claro que essa turbulência tem proporções literalmente imensas, considerando o contexto do livro.

Seu novo emprego é na misteriosa companhia SPK. Uma organização secreta dedicada a preservação de Kaijus, monstros gigantes como Godzilla. Boa parte da graça do livro está em descobrir o que é a SPK, como ela funciona, onde estão os Kaijus e como é possível que eles existam… Mas não vou falar sobre isto. Outra parte da graça está nas piadas / referências a outros livros, cultura pop, pandemia e política.

Uma dessas referências me atingiu em cheio, pois logo no início do livro, há uma referência a Snow Crash, de Neal Stephenson, livro que estava lendo imediatamente antes de ler este. Fiquei pensando: quais são as chances? E até que são razoáveis, já que ambos livros estavam disponíveis na plataforma Kindle Unlimited.

Uma curiosidade sobre o livro é que o autor o escreveu em dois meses, no final da pandemia, após cancelar a escrita e lançamento de outro título já previsto em contrato. Era um livro mais pesado, e Scalzi estava com dificuldades de concluí-lo. No lugar dele, estregou este, mais leve e bem-humorado e devidamente contextualizado.

Sem querer dar spoilers, termino dizendo que é um livro bem-humorado, bem escrito e que conta uma história envolvendo Kaijus numa perspectiva inusitada. Vale ler imaginar este universo ficcional.

Snow Crash – Neal Stephenson

Faz algum tempo que não lia algo capaz de gerar uma sensação de estranhamento como este livro. Ele começa rápido, despejando no leitor muitas gírias e termos específicos, e uma sequência densa de acontecimentos e informações sobre o futuro distópico cyberpunk que já não pode acontecer daquele jeito, mas que ainda tem uma vitalidade de algo que poderia ter acontecido. Em meio à confusão inicial dos primeiros capítulos, nos quais o autor explica muito pouco do contexto, somos apresentados à dupla de protagonistas dessa história, o hacker Hiro Protagonist e a Kourier, Y. T. Demora um bom tempo até que o leitor se habitue ao texto e comece a entender o que está acontecendo.

Hiro é um programador habilidoso que herdou de seu pai, uma espada japonesa. Ele foi um dos primeiros a codificar o ambiente virtual chamado de Metaverso. Sim, Neal Stephenson cunhou este termo, assim como nomeou como avatares, os intermediários entre usuários e ambientes virtuais, e também previu o surgimento de aplicativos como o Google Earth, tudo isso entre 1988 e 1991, período em que escreveu a obra.

Hiro conhece a jovem entregadora e skatista Y. T. e eles colaboram entre si durante o desenvolvimento da trama. Y. T. é uma personagem intrigante, jovem, destemida, boca solta, atraente e tudo isso do alto de seus 15 anos de idade. Aliás, Snow Crash não pode ser lido dentro de uma perspectiva do politicamente correto. Algumas pessoas se incomodam com a hiper sexualização da personagem. Para mim, ajudou a demonstrar e construir o ambiente decadente e amoral da sociedade semi anárquica. É uma distopia irônica construída sem o receio de chocar.

No mundo criado por Stephenson, não apenas os EUA, mas também outros países “faliram”, ou mesmo, se fragmentaram dando lugar a novas organizações e cidades estado como a Nova Sicília do Tio Enzo, A Grande Hong Kong do Sr. Lee e organizações como os Enforcers e Meta Cops que prestam serviço a pequenas nações/empresas que funcionam de modo semelhante a franquias.

O que aparentemente é uma trama sem estrutura no início do livro, se constitui numa história complexa envolvendo religião da antiga Suméria, mito da Torre de Babel, hacks neurolinguísticos, uma nova droga/vírus existente no mundo real e virtual, criação de uma nova religião, vingança pessoal, entre outros. Uma trama de algum modo complexa para ser explicada, sem gerar spoilers.

Não é um livro de leitura confortável. De fato, é um livro que divide opiniões, alguns detestam, pensam que os personagens são rasos, ou que é muito arrastado. Eu gostei, mas é bom saber que em algumas partes é um livro que se enquadraria na categoria “mindfuck“, como O Clube da Luta. Realmente, o fluxo continuo de informações é algo que dificulta a leitura. Houve passagens que tive que ler várias vezes para entender e acabou sendo uma leitura mais demorada…

O que gostei, foi justamente a capacidade que o autor teve de me transportar para uma outra realidade bizarra. As muitas sequências de perseguição, lutas e ação também são um ponto forte. Vale um salve para o Fábio Fernandes que fez um puta trabalho de tradução, pois se trata de uma obra com neologismos e de linguagem complexa. O que não gostei tanto foi do final, que foi como um corte “seco”. Penso que o livro poderia terminar melhor com um pequeno epílogo.

De qualquer modo, Snow Crash é um dos livros expoentes do movimento cyberpunk e foi considerado pela revista Time como um dos 100 melhores romances da língua inglesa.

No momento em que escrevi a resenha, o livro estava disponível no catálogo do Kindle Unlimited.

Irskaal – Rodrigo Leme e Matheus Albano

Sinopse e Trama

Definida pelos autores como HQ SCI-FI BRASILEIRA INDEPENDENTE, “Irskaal” nos apresenta uma história de exploração espacial e autodescoberta. A protagonista, Artana, é uma geóloga interplanetária enviada para investigar um planeta desconhecido em busca de um recurso valioso, a onirita. Contudo, após uma tempestade destruir sua nave, ela se vê presa nesse ambiente alienígena, precisando enfrentar desafios de sobrevivência e a complexidade de interagir com os habitantes nativos. A trama entrelaça temas como colonização, ciência e natureza, criando um enredo reflexivo, estranho e tenso.

Os Autores

Irskaal é a HQ de estreia de Rodrigo Leme e Matheus Albano. Combina o talento de Rodrigo Leme, desenhista e criador do conceito, e Matheus Albano, que assina o roteiro. A combinação da arte de Rodrigo e da narrativa de Matheus oferece uma experiência imersiva, transportando o leitor para um mundo novo e fascinante.

Arte e Estilo

O que me chamou a atenção primeiro foi a capa, ao folear, algo na obra me lembrou o trabalho de Moebius. Pensei assim: Moebius brasileiro… que legal!

Decisão em Capella – Gerson Lodi-Ribeiro

Decisão em Capella, de Gerson Lodi-Ribeiro, expande o universo fascinante de Aeternum Sidus Bellum, que já nos brindou com obras como Germes Mortais e Simbiontes. Nesse universo, marcado pela tensão constante entre a humanidade e o temível Império Ry’whax, Lodi-Ribeiro constrói uma Space Opera que habilmente equilibra a grandiosidade e os detalhes minuciosos da ficção científica hard.

O ponto mais cativante de Decisão em Capella é a imersão na cultura das carilybits, uma espécie alienígena de lobas bípedes com um rigoroso sistema matriarcal. A narrativa explora com maestria a perspectiva delas, oferecendo ao leitor uma experiência única de “primeiro contato” sob uma lente verdadeiramente alienígena. As carilybits são mais guiadas pelo olfato do que pela visão, e o autor emprega essa diferença sensorial para aprofundar a sensação de alteridade. Essa sociedade, onde os machos são privados de racionalidade e as fêmeas detêm o poder, é um retrato rico e multifacetado de um mundo alienígena, com suas próprias políticas, conflitos e dilemas existenciais.

A trama se desenrola em um momento crítico: o primeiro contato das carilybits ocorre sob a pressão esmagadora de uma guerra interstelar entre a humanidade e os Ry’whax. Presas em um dilema ético e estratégico, as carilybits enfrentam a escolha de aliar-se aos humanos, sob risco de se tornarem alvo do poder brutal do Império Ry’whax, ou aceitar a vassalagem imposta por esse inimigo implacável. Essa decisão, carregada de consequências, define o destino de um povo à beira do abismo.

Além da complexa narrativa das carilybits, Lodi-Ribeiro alterna capítulos sob os pontos de vista humanos e Ry’whax, enriquecendo a obra com múltiplas perspectivas e uma visão mais abrangente dos desdobramentos do conflito. Essa abordagem multiperspectiva intensifica o drama e a sensação de escala da guerra, permitindo que o leitor compreenda não só a urgência da decisão em Capella, mas também as motivações e as fraquezas dos envolvidos.

Lodi-Ribeiro, com sua habilidade em criar mundos densos e verossímeis, convida o leitor a refletir sobre escolhas, lealdades e a luta pela sobrevivência sob circunstâncias extremas. Decisão em Capella é mais do que uma aventura espacial; é uma exploração de moralidade, identidade e poder sob o prisma de espécies distintas, tornando-o uma leitura interessante para fãs de ficção científica que buscam a profundidade intelectual.

Os Últimos Dias de um Cafetão Robô em Júpiter – Gilson Luis da Cunha

Que bom voltar a ler Gilson Luis da Cunha! Já resenhamos aqui “Onde Kombi Alguma Jamais Esteve”, romance vencedor do prêmio o Argos 2020. Uma obra prima da ficção científica “bem-humorada”.

O conto, “Os Últimos Dias de um Cafetão Robô em Júpiter,” não é diferente! O humor comanda. A história é mistura peculiar de ficção científica e o clássico estilo noir. É ambientado no século XXVIII em uma das luas de Júpiter. Na trama, o protagonista, Blender, um robô detetive cínico, é contratado para investigar a morte suspeita de Archibald Van Haden, um magnata decadente. O enredo ocorre num futuro distante, onde humanos e robôs (IAs) convivem após uma guerra desastrosa.

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